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Opinião
Sexta - 19 de Novembro de 2010 às 08:18
Por: Bruno Peron Loureiro

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O Primeiro Seminário sobre "Cultura e Economia: uma oportunidade de desenvolvimento" teve lugar em Santiago, capital do Chile, em 3 de novembro de 2010. A dedicação de toda uma quarta-feira ao tema da economia da cultura foi um incentivo aos profissionais do setor.

Com tantos indivíduos, grupos e instituições envolvendo-se em economia da cultura, um campo relativamente recente, cabe a pergunta de a quem ela pertence.

A iniciativa é do Conselho Nacional de Cultura e as Artes do Chile, cujo órgão estatal existe desde agosto de 2003 e é responsável pelas políticas públicas de desenvolvimento cultural. Muito se tem falado sobre e feito a favor da parceria entre governo e produtores culturais.

Os pequenos produtores culturais têm oportunidades raras de disponibilizar seus trabalhos no circuito econômico nacional e internacional, por isso a relevância de políticas de Estado que valorizem produções menores, independentes e locais. O Conselho Nacional de Cultura e as Artes, portanto, propõe políticas para desenvolver e fortalecer as indústrias culturais chilenas.

Na mesma direção, o Primeiro Seminário reorientou o conceito de cultura como "polo de desenvolvimento econômico" e atualizou as posturas tradicionais através da inserção da cultura como fator de crescimento do produto interno bruto dos países e não só fonte de entretenimento de elites nos fins de semana.

Participaram do Seminário: Luciano Cruz-Coke (Ministro de Cultura do Chile), Juan Andrés Fontaine (Ministro de Economia do Chile), David Gallagher (representante do Ministro de Relações Exteriores do Chile no Diretório Nacional do Conselho Nacional da Cultura e as Artes), entre outros expositores da cultura como objeto de atenção.

O setor cultural cobra o seu devido valor junto das outras políticas sociais. O Primeiro Seminário, deste modo, colaborou com discussões sobre programas governamentais de incentivo à cultura, geração de empregos de mão-de-obra qualificada e bem paga, vínculo sustentável com a economia, incremento do turismo, etc.

A questão inicial de a quem a cultura pertence, porém, segue vigente porque há um receio legítimo de que os cidadãos só falem por meio da boa vontade dos mercados que apostem neles. Caso contrário, silenciam-se os anseios sobretudo dos desfavorecidos e pequenos.

Neste raciocínio, o economista inglês David Throsby identifica a predominância dos mercados mundiais, destarte o setor privado, nas políticas culturais a partir de meados do século XX e devido principalmente às tecnologias de comunicação e informação. Throsby defende a gestão construtiva do setor privado sem subverter o interesse público nos processos de mudança cultural na sociedade.

É por vias similares que o Primeiro Seminário propôs a discussão sobre a inserção da cultura nos grandes circuitos econômicos e a valorização dos produtores e gestores culturais.

O governo de Sebastián Piñera, neste ínterim, não poderia perder a oportunidade de mostrar uma face politicamente correta de seu governo no Chile com o resgate dos 33 mineiros em Copiapó, norte do país. Foi o grande momento de investir na popularidade do estadista, que ainda era baixa antes do episódio.

Em 27 de fevereiro de 2010, portanto meses antes do resgate dos mineiros, o país havia sido devastado por um terremoto que demandou a acolhida do Estado no processo de reconstrução. Um grande desafio ao introito do governo de Piñera. A reação chilena ao sismo de seu território foi mais rápida e menos oportunista que a que sucedeu no Haiti a partir de 12 de janeiro de 2010.

Cultura, assim, é muito mais que uma canção que se ouve na rádio, um filme que brilha nas telas ou o teatro visto como local de elite e portanto é pouco frequentado pelas massas.

Que tal ampliar o conceito de cultura e reconhecer sua importância nas esferas diversas de construção de cidadania?

O mercado já se tocou da magnitude de um setor emergente.

Chegou a vez de todos os cidadãos pleitearem a sua expressão.


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