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Opinião
Sexta - 26 de Novembro de 2010 às 08:53
Por: Kleber Lima

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O leitor já deve ter vivido a experiência de dirigir ao amanhecer ou ao entardecer. A vista fica meio embaralhada, principalmente ao anoitecer. Até a gente se acostumar com a luz do farol, a estrada vira um perigoso vulto, e os veículos que cruzam pelo nosso são como duas bolas de fogo flutuantes sobre essa calha nem clara nem escura.
 
Segundo estatísticas da polícia rodoviária, cerca de 30% dos acidentes nas rodovias federais ocorrem entre as 19h e 20h, nessa fase de transição da luz, o chamado lusco-fusco. Além, é claro, das condições de sinalização e imprudência dos condutores. Especialmente em estradas, o mais recomendado nesses horários é parar e tomar um café, até a vista se adaptar às novas condições de luz.
 
O lusco-fusco pode ser uma metáfora apropriada para descrever o período que vai da eleição até a posse do novo governo. É o momento da transição, da adaptação às novas condições de luz – nesse caso, da nova correlação de forças partidária e parlamentar.
 
Nem todo mundo que serviu e foi um valoroso soldado durante a campanha, onde os dias são intensos e a convivência dos atores muito íntima, poderá ser aproveitado no governo. Há, a propósito, no universo político a máxima de que quem é bom de campanha normalmente é ruim de governo.
 
Campanha é guerra em campo aberto. Os soldados mais fortes, destemidos e corajosos são indispensáveis. Já o governo exige mais jeito que força. Candidato precisa de leões. Governantes preferem raposas. Campanha é corrida de 100 metros, explosão, impulso. Governo é maratona, resistência, cadência.
 
Aliados estratégicos muitas vezes são deixados à beira do caminho e ex-adversários passam a ocupar seus lugares. Não necessariamente por vontade do governante, mas devido à correlação de forças. O aliado perdeu a eleição, o adversário ganhou. O jogo continua, mas as peças agora são outras.
 
Essa é a primeira crise que o vencedor da eleição enfrenta. Na derrota, a solidão o acompanha, inclusive nas dívidas. Na vitória, são muitos os pais da criança, e todos acham que a sua contribuição foi mais decisiva que outras. E querem recompensa proporcional. Estão certos, porque o mundo começa em nosso quintal. O vencedor tem que lidar com isso, porque só ele tem a dimensão real do conjunto das contribuições dadas. E, o mais importante, só ele tem – ou deveria ter – a dimensão exata das contribuições que precisará na maratona que se inicia; só ele tem – ou deveria ter – a visão aérea do tabuleiro.
 
Enquanto o governante eleito dirige na estrada durante o lusco-fusco, a sociedade o assiste com clareza. A formação do seu governo, as bases sociais que busca para sua sustentação - embora derivem ou sejam bastante influenciadas pelos atores da campanha -, vão indicando sua habilidade e perícia para guiar esse veículo, o governo, no ambiente ofuscado da mudança de luz, nessa mudança dialética da correlação de forças em interação com a conjuntura. Está na velocidade correta? Está respeitando a sinalização? Está ultrapassando em faixa contínua? Está respeitando a distância correta do veículo da frente? Está com excesso de carga (no caso, passageiros)?
 
É esse o momento da Dilma. É esse o momento do Silval Barbosa. Nos dois casos, ambos levam uma vantagem: já estavam ajudando a pilotar os veículos e já passaram pelo lusco-fusco em ocasiões pretéritas. Provavelmente aprenderam com os pilotos que os antecederam muito sobre os perigos da estrada nesse momento. O que significa que, no mínimo, já tenham acendido o farol!
 

KLEBER LIMA
é jornalista e consultor de marketing em Mato Grosso.
kleberlima@terra.com.br.



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