Uma cidade sem futuro
A cidade não existiria sem seus habitantes, e estes, por outro lado, interagem com ela, além de vê-la como referência em suas movimentações diárias. Para isso, no entanto, é preciso que se construa uma série de sinalizações e de espaços. Importantes e necessários, inclusive, para o disciplinamento de quem por ela e nela circula. Daí a relevância das calçadas, vias, praças e placas.
Percebe-se, portanto, a necessidade do prefeito e dos vereadores. Agentes públicos municipais incumbidos de pensarem a cidade. Bem mais que os próprios munícipes, cujas responsabilidades pela cidade não são eliminadas em razão da existência daqueles.
Contudo, vale dizer, uma grande parcela dos moradores deixa tudo por conta de seus representantes na Câmara Municipal e na chefia do Executivo. Tais representantes, no entanto, preferem se esquivar de seus compromissos, optando por cuidarem melhor dos afazeres supérfluo-burocráticos.
Aliás, por conta disso, cresce a lista dos contemplados com comendas, títulos de cidadania e monções. Isso explica a ausência de discussões no plenário da Casa Legislativa, assim como igualmente não se vê o uso frequente da tribuna e dos apartes - exceto quando os nobres parlamentares se pegam com querelas pessoais.
Essas brigas, por exemplo, trancam a pauta no Legislativo cuiabano. O que, de certo modo, beneficia o governo, que se vê longe do olhar fiscalizador e cobrador.
Situação comprometedora. Agravada com a sujeira que entope os bueiros, a ponto de qualquer chuva deixar intransitável muitas avenidas, e com as calçadas transformadas em estacionamento, quando não se tornam igualmente extensão de botequins, bares e restaurantes, ao mesmo tempo em que uma ou outra rua tem a sua passagem bloqueada por guaritas ou pela cobrança de "pedágios por marginais. Isso sem contar com a imoralidade causada pela venda e aluguel de pontos de táxis.
Paisagem negativa. Além de ser bastante reveladora, uma vez que expressa o descaso das chamadas autoridades constituídas, bem como a desatenção dos transeuntes.
Desatenção que se volta contra o próprio morador. Isso porque ele tem, cada vez mais, diminuído os espaços por onde poderia se locomover - dificultada ainda mais pela inexistência de mapas da cidade, de placas sinalizadoras e identificação dos itinerários dos ônibus nos pontos dos transportes coletivos. O que deixa perdido não só quem aqui chega pela primeira vez, mas também seus antigos moradores.
Assim, a Capital mato-grossense cresce. Porém, o seu crescimento se dá de forma desordenada e norteada pelo desrespeito às regras e às normas, sem que haja um posicionamento oficial ou uma ação que venha a desbloquear os entraves erguidos, os quais nem, sequer, servem como referência. Pois afastam a cidade de seus habitantes, e estes se veem "num mato sem cachorro", ou seja, desorientados e destituídos do seu espaço maior, que é a própria cidade - distanciada, agora, do real papel. O que compromete o futuro, além de ignorar-lhe o passado e emperrar o seu presente.
Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: lou.alves@uol.com.br
Comentários