Otimismo
Leio nos jornais sobre o otimismo das autoridades fazendárias estaduais com relação às nossas contas públicas. Falou-se até que Mato Grosso é um exemplo para outras unidades da federação, que hoje encontram dificuldades no fechamento de suas contas.
O nosso Estado, além de fechar as contas sem nenhum artifício contábil ou jurídico - de acordo com a Lei da Responsabilidade Fiscal -, ainda deixa saldo em caixa! Fantástico!
Os integrantes da equipe econômica da presidente Dilma já deram os sinais de alerta. Farão cortes de 20 bilhões de reais no orçamento federal e de 50 bilhões para o BNDES. O atual e futuro ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse: "Gastamos demais nos últimos dois anos, pois a crise exigiu. Crescendo a 7% ao ano, é hora de abandonar o estímulo fiscal e os subsídios. A ordem é mão pesada."
Mesmo com o corte dos repasses do governo federal, o parcelamento de débitos de ICMS com desconto de multas e juros aos contribuintes, os cortes no orçamento do Estado e a suspensão do pagamento de dívidas com os prestadores de serviços executados, por aqui vai tudo azul!
A despesa com pessoal é paga religiosamente em dia. Seu não cumprimento, além de ferir uma lei federal, poderá trazer sérios aborrecimentos ao Executivo.
Para melhorar ainda mais a nossa autoestima, o grande presente de Papai Noel! O Estado atualmente tem plena capacidade de endividamento. Estamos liberados para chegar aos bancos e captar recursos para as obras da Copa do Mundo. Maravilha!
A previsão oficial de recursos para o ano que vem é das melhores. Além do aumento previsto da nossa arrecadação, a Copa trará muitos investimentos privados, que vão alavancar ainda mais a nossa economia.
Com notícias tão otimistas, fico rezando aos meus santos protetores para esta Copa do Mundo chegar o mais rápido possível a Cuiabá.
Estava sem perspectiva com relação ao futuro da minha cidade, que beirando os 300 anos, acumulou tantos problemas que deram origem ao caos atual.
O Campeonato Mundial de Futebol, que terá uma parte realizada aqui, é o grande milagre anunciado. Nossa capital será transformada em um imenso canteiro de obras, remédio único para evitar o rebaixamento da ex- Cidade Verde em mero acampamento.
A palavra de ordem lançada é: "tudo depois da Copa".
Só de pensar que o meu Estado tem dinheiro guardado no cofre e que a saúde, educação, segurança pública, transporte e emprego, estão a cada dia pior, me dá um desânimo!
Sou péssimo em Matemática e Finanças. Não entendo nada mesmo. Raciocínio sempre de maneira doméstica. Jamais seria capaz de deixar meu filho doente em casa, tendo dinheiro no cofre para pagar o seu tratamento.
Não irei compreender jamais como, com tanto dinheiro em caixa, o governo do Estado só irá investir em obras sociais com recursos da Copa.
Acho que não é para entender mesmo. Com tantos malabarismos contábeis e jurídicos para fechar as contas direitinho, e mais o dinheiro no cofre, desconfio que seja tudo virtual. Acho que alguém está enganado com relação a nossa economia. Tomara que seja a equipe econômica do novo governo.
Otimismo! Vamos receber o Papai Noel com alegria - que este ano chegou antecipado.
Gabriel Novis Neves é médico em Cuiabá e escreve em A Gazeta às quintas-feiras. E-mail: borbon@terra.com.br
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