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Opinião
Sexta - 10 de Dezembro de 2010 às 09:03
Por: Gabriel Novis Neves

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Na semana comemorativa aos quarenta anos de criação da nossa Universidade Federal de Mato Grosso, escrevi dois artigos retratando a essência da proposta inicial do trabalho da equipe responsável para a sua implantação.

“O início” e “Era assim”, os dois artigos a que me referi, já foram publicados. Com este artigo – “Agora” -, encerro a saga da criação e implantação da nossa UFMT.

A UFMT foi criada no dia 10 de dezembro de 1970, na Base Aérea de Campo Grande (MS).

O presidente Médici e o ministro Passarinho assinaram a lei nº 5647.

O Estado ainda não havia sido dividido, e, após a sua divisão, a UFMT passou a ser privilégio do norte de Mato Grosso, embora campo-grandense de nascimento.

Durante o ano de 1971, estudamos o modelo de universidade a ser implantada no quilômetro zero da estrada Cuiabá-Santarém – na época em início de construção. No dia 17 de agosto de 1972, o Reitor da UFMT participou do 1º Encontro de Reitores das Universidades Públicas em Brasília, e lançou o projeto da Universidade da Selva.

Era um projeto ambicioso e arrojado para a conservadora e aristocrática academia. Muitos estranharam a nossa proposta de trabalho. As mentes não poluídas pelas mesmices, e produtivas de novos conhecimentos, entenderam o recado. A proposta central do novo modelo priorizava a pesquisa, o conhecimento dos povos das florestas e o meio ambiente. Era o caminho seguro para o ensino voltado para o desenvolvimento sustentável da região e para a preservação do nosso eco-sistema, assim como, da nossa cultura pré-colombiana. A proposta inicial de se evitar que a nossa UFMT se tornasse mais uma repartição pública - improdutiva e ociosa - sensibilizou o governo Federal. Com o apoio do governo Federal, foi possível viabilizar a UFMT.

A decisão política do Ministério da Educação não foi desperdiçada pelos “filhos de ninguém” - os responsáveis pela sua implantação.

Isso foi o ontem. O agora nos traz outros problemas. O tempo da história jamais poderá ser comparado. Temos apenas parâmetros certeiros para avaliar erros ou conquistas.

Os ricos currículos acadêmicos, com suas pontuações máximas, nos sinalizam que a UFMT está definitivamente consolidada.

Os focos de prioridades são outros, assim como as motivações. O fazejamento aposentou-se, originando com isso as intermináveis, e, muitas vezes, estéreis reuniões.

Neste mundo atual de burocracias gigantescas, a informalidade que imperou nos primórdios da criação da universidade, não existe mais. É compreensível este aspecto. Mas, não deixamos de sentir saudades daquele tempo, cercado por certo romantismo. A informalidade, saudável e humana, foi substituída pelas chaves da desconfiança dos tempos modernos.

O apoio financeiro do governo federal para a educação brasileira está na UTI do desdém. As nossas universidades, na sua vida vegetativa, vivem de dolorosos favores das tais emendas parlamentares - um dos fatores da perda da sua autonomia.

A má vontade do governo com relação ao financiamento público para educação é fator preocupante para os educadores brasileiros. Assim como é fator de inquietação e incompreensão dos estrangeiros, pois é consenso mundial que um país, que apresente um grau satisfatório de crescimento econômico, tenha o dever de investir maciçamente no seu desenvolvimento social – especialmente na educação.

Agora, ao completar quase meio século de existência, a euforia produzida pela energia dos primeiros dias da nossa UFMT é substituída por resultados estatísticos quantitativos, sempre preocupantes. Em uma casa voltada para o conhecimento e cultura, a única estatística que realmente deve ser levada em conta, é a qualitativa.

Gostaria que o “agora” fosse, por uns momentos, substituído pelo “era assim.” Pelo menos, até que desapareçam os efeitos do tsunami que atingiu a educação brasileira.


* GABRIEL NOVIS NEVES
é medico e ex-reitor da UFMT



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