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Opinião
Domingo - 12 de Dezembro de 2010 às 18:20
Por: Lourembergue Alves

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O “mensalão”, o de 2005, já foi tido como uma peça escrita pela imprensa sensacionalista. Versão bastante divulgada, particularmente por quem se revestiu da responsabilidade de “blindar” o presidente da República. “Blindagem” encabeçada pelo próprio presidente. A ponto, por exemplo, de não se ver constrangido quando repetiu por diversas vezes “não saber” e “nada ter ouvido” a respeito daquilo que se popularizou como esquema de compra de votos de parlamentares, cuja denúncia foi acolhida pelos ministros do Supremo Tribunal Federal no fim de agosto de 2007. Apesar disso, curiosamente, o senhor Lula da Silva, volta e meia, se refere ao dito esquema como uma manobra ou, melhor, “uma ação política para derrubá-lo”. 

Lorota, repetida na quarta-feira passada, quando o ex-metalúrgico se encontrava em café da manhã com a bancada petista. Assim, o “mensalão do PT” – assim como o do DEM/PSDB – deixa de ser um esquema, tocado por quarenta réus, para se transformar em um golpe – a moda do Plano Cohen - com intuito de derrubar o mandatário-mor do país.

É inegável o poder de persuasão do ex-metalúrgico. Conseguiu sair-se, e bem, daquela situação, que se prenunciava como catastrofica, pois o “QG do Mensalão”, de acordo com a denúncia, estava instalado na Casa Civil. Tanto que o referido episódio, sequer é relembrado como deveria sê-lo, e, quando vem a tona, esporadicamente, é mencionado como “golpe”, “obra da impressa marrom”.

Tragicomicamente, não são poucas as pessoas que acreditam nessas “versões oficiais”, “petistas” ou “do presidente”. Entre os que acreditam, o píor de tudo, encontra-se, incluisve, gente com escolaridade invejável. Porém, os diplomas que carrega não lhe servem para “abrir” os olhos diante do que está à sua frente. Ainda que no processo conste provas substanciosas. Isso reforça a idéia de que nem todos que vêem, enchergam de fato o objeto em questão.

Assim, o “mensalão de 2005” tende a ser jogado nos escaninhos do passado. Um pretérito que não se pode ao menos ser mencionado em texto de jornal, a não ser que o encare na condição de “Plano Cohen de 2005”. Para o deleite do presidente do país, que tem a competência de “fazer a cabeça” de uma parcela significativa da população. Pois usa, com maestria, da arte da retórica – à moda gorgiana. Tanto que, daqui a pouco, ninguém mais ouvirá falar do dita “máfia”. O que permitirá a Corte-mor arquivar o processo contra os quarenta mensaleiros, considerados “outrora” como réus.

2005, que entrou para a história como o ano em que o vocabulário da roubalheira nacional ganhou a palavra “mensalão”, cairá no esquecimento. Mesmo que se tenha assistido a uma sucessão de escandalos de desvio de dinheiro público, iniciado com o vídeo em que o chefe de departamento nos Correios era flagrado embolsando uma propina de 3.000 reais. A partir daí, denúncias pipocaram a torto e a direito. O próprio deputado-denunciador era um dos beneficiados do esquema de pagamento de mesada para parlamentares da base aliada. Dinheiro desviado de empresas estatais e distribuído por um empresário, o qual também esteve envolvido no “mensalão do PSDB”.

Os documentos revelados à época deixaram à mostra um esquema orquestrado pela cúpula petista. Daí outras ligações apareciam. Inclusive a existência de caixa dois para pagar o marqueteiro da campanha eleitoral do ex-metalúrgico. Este chegou a ser denunciado como sabedor de tudo. Mas não realacionado entre os oficialmente acusados do esquema que, de acordo com o Ministério Público, se trata de uma “sofisticada organização criminosa”, “especializada em desviar dinheiro público e comprar apoio político”, com o intuito de “garantir a continuidade do projeto de poder”.          
   
O mensalão, portanto, nada tem a ver com golpe, ou tentativa de derrubar o governo. Mas um esquema altamente prejudicial ao patrimônio público.


Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: lou.alves@uol.com.br.


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