Caiu a máscara
As chuvas chegaram. Com elas chegaram também transtornos para a população. É bom que comecemos desde já a nos munir de paciência para esperar as providências da municipalidade.
As autoridades já estão sendo solicitadas a falar sobre a infra-estrutura da, até então, Cidade Verde. Hoje a Cidade Verde do Brasil é Curitiba, capital do Paraná. De acordo com matéria divulgada por Marcos Antonio Moreira, “a cidade de Curitiba obteve a distinção de metrópole mais verde entre outras 17 da América Latina, segundo um estudo sobre meio ambiente.”
Pois muito bem. Não somos mais a Cidade Verde. E as chuvas? Bom, só sei que um chuvisco mais prolongado bastou para fazermos o fácil diagnóstico de uma das doenças crônicas que afligem a nossa população.
Todo ano, no período das chuvas, a situação é a mesma. Inundações, desabamentos, ruas transformadas em rios, buracos gigantes cheios de água - oferecendo risco de morte a pedestres e motoristas -, e as conseqüências sociais dessa tragédia: populações desabrigadas e as epidemias.
Os problemas da cidade são crônicos. Seus administradores nunca pensaram no crescimento natural da cidade. Faltou, portanto, planejamento urbano e vontade política geradora de recursos financeiros. Ao longo de todos esses últimos anos, a cidade nunca se preparou para as chuvas. Apenas remendos foram feitos.
A prefeitura não dispõe este ano de recursos orçamentários para resolver este problema. Os buracos permanecerão abertos, e pouquíssimos trabalhadores estão à disposição da Secretaria de Obras de Cuiabá. O prefeito está tentando recursos federais para os próximos anos. Seria para solução a médio e longo prazo. Até lá, é isso aí.
O que chama a atenção, com certa revolta, é que há apenas dois meses os governos Federal, Estadual e Municipal se digladiavam no Horário Político Eleitoral para ver com quem ficava a paternidade de centenas de obras em Cuiabá.
Avenidas, ruas e becos estavam asfaltados ou sendo, serviços de drenagem das águas pluviais em fase final de execução, todos os córregos limpos e protegidos, pontes recuperadas. Essas, e outras obras importantes para a cidade, nos foram passadas como realizadas. Então tá. Cadê?
A verdade é que toda aquela ‘briga’ era apenas com relação à paternidade das obras virtuais.
Este início de chuva nos dá o prognóstico do que nos aguarda: tragédias, tragédias e tragédias. E os governos Estadual e Federal? O que dizem a respeito dos seus investimentos eleitoreiros? Nada. Estão cegos, mudos e surdos.
A chuva retirou o curativo da ferida e denunciou a farsa dos abundantes investimentos que, após as eleições, recebem o pomposo nome de estelionato eleitoral.
Cuiabá continuará como sempre. Abandonada pelo poder público.
É. E eu ainda me espanto. Ainda bem que me espanto. Não quero perder a ilusão de que um dia a minha cidade irá receber o tratamento que merece. Diz um ditado popular que “a esperança é a última que morre”. Mas, para mim, ela não irá morrer nunca.
Para acalmar o povo cuiabano, nossas autoridades nos acenam com as obras que serão realizadas para a Copa de 2014. Tudo o que não foi realizado em Cuiabá nos seus quase trezentos anos de existência será feito nos próximos três anos - de aeroporto a hospital universitário.
Será? Vamos esperar para ver. Eu só sei é que, com as chuvas, caiu a máscara dos falsos protetores da ex-Cidade Verde.
* GABRIEL NOVIS NEVES é médico e ex-reitor da UFMT
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