Assessores
Já escrevi vários artigos sobre a mania atual e irresponsável de terceirizar o erro. A sofisticação da terceirização é tamanha, que toda autoridade deste país possui um numeroso grupo - composto por fiéis assessores - para assumir seus erros, pois ela nunca sabe de nada.
Esses assessores são servidores do Estado. Servidores especiais, pois recebem salários estratosféricos. Como tal deveriam estar defendendo e zelando pelos direitos dos contribuintes. Mas, na realidade, estão nos seus postos privilegiados única e exclusivamente para desempenharem a difícil missão de defender os malfeitos dos seus chefes.
Eles, os assessores, muito bem instruídos pelos seus chefes, possuem uma estranha filosofia de trabalho: um erro se justifica com outro erro. Como "errar é humano", pressupõe-se daí que os erros irão se perpetuar. Procurar o acerto, através do erro, para eles é impensável.
Somos, portanto, obrigados a ouvir diariamente dos nossos políticos e, principalmente dos tais assessores, aquela justificativa que virou símbolo de um período da nossa história: "eu não sabia de nada..."
Na iniciativa privada o erro também se faz presente, mas é imediatamente corrigido. No governo, o erro é moeda corrente.
Recentemente, por ocasião da visita de uma ilustre personalidade da história recente de Mato Grosso à nossa capital, o governo cometeu um grave erro diplomático, ou, popularmente falando, demonstrou uma tremenda falta de educação.
O governo foi oficialmente convidado para participar das comemorações dos 40 anos de criação da maior usina geradora de cultura e conhecimento deste Estado a UFMT.
Algum governante compareceu? O governo mandou algum representante? Não. Ausência total, tanto do Estado quanto do município.
Foi muito observada e comentada esta ausência, principalmente pela comunidade acadêmica.
Retrata fielmente o lugar que a educação ocupa no Estado. Diante da gafe cometida, lá estavam os prestimosos assessores com a lamentável e recorrente justificativa: o governo não sabia de nada.
Na verdade eles sabiam, sim. Esta justificativa é tão implausível, que ofende a nossa capacidade de entendimento e insulta a nossa inteligência. A realidade é que todos do governo estavam ocupados em recepcionar o chefe da segurança da Fifa.
Por esta e outras atitudes de descaso para com o social, Mato Grosso já ganhou vários títulos pejorativos e estamos bem classificados no livro dos recordes.
Por um lado temos a reitora da UFMT se empenhado em mostrar a toda população mato-grossense os frutos de um trabalho arduamente executado e, hoje, pleno de êxito. Um trabalho que de fato contribui para o desenvolvimento socioeconômico e cultural do Estado.
De outro lado temos o governo participando de uma reunião importantíssima para decidir sobre um novo local para a queima de fogos na noite do último dia do ano!
Ah, sim! E escolher também a decoração para o local da posse do nosso novo mandatário. A preocupação no momento também é definir os detalhes da composição dos últimos cargos do governo de continuação.
Em time que está ganhando, não se mexe. Continuaremos colhendo os bons frutos das políticas públicas implantadas, especialmente na saúde, educação e segurança. Na terra onde tudo e todos são homenageados, uma novidade interessante: a homenagem da ausência. Culpa dos assessores!
Gabriel Novis Neves é médico e escreve neste espaço às quintas-feiras. E-mail: borbon@terra.com.br
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