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Opinião
Domingo - 02 de Janeiro de 2011 às 14:38
Por: Lourembergue Alves

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Vive-se hoje, em Portugal, sob o signo da disputa presidencial. Não parece. Pois as festas de final de ano, com já era previsto, afastam bastante os lusitanos do tablado eleitoral. O que diminui os índices percentuais das audiências dos debates entre os candidatos, e isso, por outro lado, ajuda à candidatura a reeleição do presidente, uma vez que as críticas da oposição não têm eco no seio da população.
 
Assim, essa disputa segue morna. Sem qualquer perspectiva de que até a véspera da eleição (23/01/2011), alguma coisa possa mudá-la. Tal leitura se reforça quando se percebe a ausência de discurso dos candidatos de oposição. Até mesmo Manuel Alegre (PS), político com mais de trinta anos como deputado e saído das trincheiras contra a ditadura salazarista, não consegue seduzir o eleitorado. Sua fala não tem a empolgação de 2005, quando se candidatou pela primeira vez a presidência do país. Oportunidade em que concorria como independente e ficou em segundo lugar, obtendo a votação expressiva de mais de um milhão de votos, com os quais superou inclusive o “velho” Mário Soares – candidato oficial do PS.
 
Também se mostra inexpressivo o indicado pelo PCB. À moda Lula da Silva em 1989, Francisco Lopes repete à exaustão os chavões comunistas, contra o capitalismo de direita, em “defesa” dos direitos dos trabalhadores. Uma cartilha antiquada, desacompanhada de projeto alternativo de governo e de propostas que busquem melhorias aos desassistidos. 
 
Igualmente presos ao blábláblá antigo e sem conteúdo algum, o independente Fernando Nobre e o socialista regional Defensor Moura disparam suas metralhadoras ao atual presidente. Porém, erram o alvo. Principalmente o primeiro ao generalizar seus ataques, com termos que maldizem os políticos, partidos e o sistema. “Discurso” que jamais enriquece as discussões sobre os negócios públicos e a vida cotidiana, fora e dentro do jogo eleitoral. Tão somente serve para aumentar a descrença do eleitorado em relação à possibilidade do Estado em enfrentar suas adversidades. 
 
Dificuldades que são muitas. Pois o país, segundo os analistas econômicos, está à beira de uma forte crise. Crise que se iniciou nos Estados Unidos e se alastrou pela Europa, deixando desvalida a economia grega, mexeu com as colunas estruturais da França e paralisou a vontade de crescer dos ingleses, por exemplo. Razão pela qual é grande a certeza de que Portugal recorra ao FMI ou a União Européia ainda no primeiro semestre de 2011. Antes que a situação fique demasiadamente difícil. 
 
Cenário, contudo, ignorado pelos candidatos. Sobretudo os oposicionistas, que deveriam trazer ao debate a atual situação não-promissora e os desafios do futuro imediato. Esperar que o candidato a reeleição desempenhasse tal papel é equivoco tamanho. Erro, aliás, antes cometido pelos tucanos no Brasil. E olhe que o Estado brasileiro não se encontra no mesmo quadro dos portugueses, mas sua real situação não tem o desenho que o presidente Lula mostra e se mantém “na crista da onda”.

Explica-se, portanto, a eleição da indicada do ex-metalúrgico. De igual forma deve explicar a reeleição de Cavaco Silva, em Portugal, logo na primeira volta (primeiro turno), a exemplo de todos os presidentes que se recandidataram, desde o 25 de abril. Assim foi com Ramalho Eanes, Mário Soares e Jorge Sampaio.      


Lourembergue Alves
é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.


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