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Opinião
Domingo - 09 de Janeiro de 2011 às 14:24
Por: Paulo Zaviasky

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A missão dos médicos no dia de hoje transborda os limites da vida. Corredores de desesperados, a grande maioria detentores do bolsa família, a “salvação” do Brasil que prova aos nossos filhos que estudos, faculdades, profissões e trabalho são meros detalhes. O que vale “é a inteligência”.

Muito bem, com tais exemplos abnegados, a classe médica se extingue pouco a pouco e os que sobram são tantos “inteligentes” doentes jogados nos corredores de espera dos atendimentos que apenas são feitos por “burros” que não ouviram os conselhos do cara e seguiram a nobre profissão missionária da ciência médica.

Mas, o bolsa-família não cura bicho-do-pé e nem acidente de moto. Sem leitos, sem cama, sem vaga, sem remédios, sem milagres, os “inteligentes” bolsas-famílias começam a notar que tal “benefício” retirado do bolso de quem trabalha, anima os “burros”, aqueles que trabalham e tem profissão, a desencadearem seus protestos, cada vez maiores, pois podem enganar alguns por algum tempo, porém jamais conseguirão enganar todo mundo por muito tempo.

O dolorido foi ouvir xingamentos aos médicos, enfermeiras, ajudantes, missionários de verdade que, mesmo sem condição alguma fazem das tripas, o coração. Não xingam o cara dos passaportes, do terrorista italiano ou as fantásticas urnas eletrônicas...

Nunca vi um grupo de doentes espalhados no chão dos corredores emergenciais da saúde pública, orando a Deus em agradecimento às bolsas-famílias que recebem de todos nós, na hora do apuro na própria saúde do Brasil.

Também nunca vi uma comissão desses abnegados e sofredores doentes emergenciais, vítimas também da inteligência artificial que eles mesmos adoram, veneram, votam e brigam feio, mesmo na dor do adeus para sempre, a doarem uma medalha de honra aos médicos e enfermeiras que ralam e rolam nesses jazigos de incompetências, como prova de reconhecimento e de amor aos que tentam salvá-los. Não! Preferem um bolsa-família da vergonha do que investirem na própria saúde.

É aqui que eu queria chegar. Uma multidão de desesperados, repito vítimas também, xingam os médicos, armam esquemas dos quintos dos infernos como, por exemplo, uma senhora que estava “dando parte” ao policial-segurança de que ela estava doente mais de ano e ainda tinha que esperar na fila por uma ficha-vaga. O cúmulo, a doente inteligente protestava e xingava quem? O burro do médico!

Ele, o burro, era o culpado pelos pecados do mundo! A história não era bem essa. Essa senhora, como vários inteligentes bolsas-família esparramados pelos corredores da dor – que, aliás, devemos respeitar – estava com sífilis, cancro e gonorréia há mais de vinte anos e se mudou para Cuiabá anteontem e queria atendimento VIP, pois é inteligente, segundo o cara.

E, antes dos protestos, o registro de que eu também estava nessa fila com o meu conhecido acidentado com a sua moto. Também aguardamos como todo mundo. E, vou além, se o meu conhecido não estivesse urrando de dor também, eu cederia a vaga para tal senhora inteligente de outras plagas dos desesperos.

Mas, notei que na alegria e na tristeza, no riso e no choro, na vida ou na morte, os doentes inteligentes das bolsas-tudo sofrem demais e cultivam a mesma coisa que todos nós. Passei a minha vida inteira, séculos de idade, nesta minha cidade natal. Não tinha água nem luz, asfalto nem esgoto, telefone e nem lixeiro, por aí... Quase trezentos anos de abandono e de sofrimento social. Fui ver o asfalto somente cinqüenta anos depois de nascer, pois o ex-prefeito biônico “Titito” só deixou a frente de minha casa com buracos, crateras e poeira. Jornalista sofre.

Agora, não, o satélite extraterrestre despenca de seu disco voador marciano ontem e, hoje mesmo, já xinga a mãe da cidade inteira porque não tem água tratada, asfalto, lixeiro, manicure e TV a cabo. E tais “inteligentes” até xingam os médicos, os únicos “burros” que não param um só segundo e nem vejo alguém ofertar a eles a Medalha de Honra Missionária no silêncio dos inocentes nessas dores das madrugadas que só os médicos enfrentam.


* PAULO ZAVIASKY
é jornalista

verpz@terra.com.br



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