Autoridades!
Um calção básico, tênis comprado no paraguaizinho, camiseta de propaganda e um bonezinho - tudo distribuído pelo governo. Pronto. Depois, só falta vontade para conhecer a nossa realidade social, e, se possível, realizar alguma coisa nessa área tão abandonada!
Cuiabá é o centro de irradiação de problemas sociais e receptadora das misérias sociais do interior do Estado.
Uma simples caminhada pelas nossas ruas e avenidas de manhãzinha - não necessariamente de longo percurso -, sem assessores, seguranças e imprensa, é o que basta para que nossas autoridades tenham uma aula prática de sociologia.
Encontrarão pelas calçadas jovens dominados pelas drogas, especialmente o crack. A turma do pó dorme (!) em casa. Essas crianças jogadas nas ruas têm mãe e pai, e vivem em um país que se intitula socialista e defensor dos pobres. Mas desse jeito? O nosso futuro está morrendo no presente do agora. É triste constatar a morte das novas gerações por descaso do governo com relação às drogas.
As nossas autoridades enfrentam a tragédia com discursos futuristas, quando sabem muito bem quem são os fornecedores de droga no nosso Estado, e por onde ela entra.
Forças poderosas diplomáticas falam mais alto, e qualquer intervenção mais severa no combate à entrada da droga poderá prejudicar a política do Mercosul e, principalmente, a doutrina bolivariana.
É triste esse quadro social em que o jovem vive só o “momento”. Triste saber que a nossa sociedade está anestesiada e as nossas autoridades equivocadas com as suas opções de prioridades.
O Governo do Estado acaba de demonstrar esse grande equívoco de injustiça social. Criou uma secretaria só para fazer desapropriações para a Copa. Outra secretaria estudará projetos comprados para a tal mobilidade urbana, recentemente publicada pela imprensa. Não contando a criação de uma superautarquia cujos diretores têm até mandato para fazer o que a Secretaria de Infra-Estrutura faz. E esta faz em melhores condições técnicas e com larga experiência na execução de obras. Não esquecendo que o Estado possui também uma Secretaria de Esportes. É muita despesa para um Estado pobre e cheio de problemas mais urgentes e importantes! Não consigo entender esta política social – mas dizem que é.
Lembro às autoridades do meu Estado da necessidade urgente de se criar a “Secretaria de Fabricar Dinheiro” - para suportar, pelo menos, o custeio das novas secretarias. Pelo que fiquei sabendo, só em desapropriações para as obras das avenidas que serão alargadas, das rotatórias e dos elevados, o governo terá que investir muito dinheiro. Nem eles mesmos sabem quanto, agravado com o fato de que eles também não têm a quantia necessária – seja ela qual for.
O novo governo Federal já emitiu sinais de que a prioridade agora é o gigantesco corte no orçamento, nas emendas parlamentares e fechamento do cofre do BNDES.
E também já avançou o seu peão de prioridade: combate total à miséria. Por lá ninguém falou em Copa do Mundo.
Dizem que por aqui a herança é inimaginável. No momento está proibida a sua publicação, assim como quaisquer comentários na mídia. Ao pé do ouvido os comentários estão liberados. Como o ouvido foi feito para ouvir, e não para guardar segredos, já é do domínio público a nossa situação financeira.
Autoridades! A dependência química não é vício ou malandragem! É doença, possível de ser tratada. Que tal criar uma secretaria especial no Estado de combate às drogas? Seria um bom começo, aprendido na caminhada da madrugada. A estrutura seria pequena e não haveria necessidade de grandes recursos financeiros. Há, porém, uma única exigência para o seu sucesso: ela não pode ser loteada. Adeus drogas!
* GABRIEL NOVIS NEVES é médico e ex-reitor da UFMT
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