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Opinião
Quinta - 27 de Janeiro de 2011 às 08:24
Por: Gabriel Novis Neves

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Cedo o telefone tocou. Atendi. Era um velho amigo. Preocupado, me perguntou se eu já tinha lido a manchete de um grande jornal da cidade, que chamava a atenção dos leitores para a problemática e caótica situação do Portão do Inferno. "Ele vai desmoronar!" - exclamou meu amigo.

Respondi que já tinha lido a notícia e que a minha preocupação era tão grande quanto à dele.

É lamentável! No nosso país as tragédias da natureza são anunciadas, e os órgãos governamentais há anos vêm protelando, de forma irresponsável, a execução de medidas preventivas necessárias para conter a ação destruidora da natureza agredida. E ela é implacável!

Quando a natureza se manifesta contra os seus agressores, pouca coisa se pode fazer. Exemplos não nos faltam. O mais recente, é a tragédia que se abateu sobre o Rio de Janeiro. O que é incompreensível, para não dizer revoltante, é que nessas horas, todos os representantes dos órgãos governamentais rezam a ladainha de sempre: "é preciso investir em prevenção". Sim. Todos concordam com isso. Mas quando? Quando estes investimentos serão feitos? A resposta, infelizmente eu não sei, e acredito que a grande maioria do povo também não sabe. Só sabemos que, enquanto os nossos políticos estiverem realizando obras de fachada para satisfazer a vaidade do poder, os recursos para a prevenção, irresponsavelmente, vão sendo deixados de lado.

Com a notícia que li sobre o Portão do Inferno, não tenho dúvidas: Cuiabá poderá ser o palco de uma das próximas tragédias a se abater no país. Há anos aquela região vem "falando" que não suporta mais o descaso com que é tratada. O Portão do Inferno deixará de ser Portão, e irá se transformar no maior buraco do Estado.

Quem diz isso, não sou eu. São os geólogos e geógrafos da nossa Universidade Federal de Mato Grosso. É a Secretaria Estadual do Meio Ambiente, que através do seu Conselho, criou uma resolução impedindo o tráfico de veículos de cargas pesadas pelo Portão do Inferno. Como não existe fiscalização, eles trafegam tranquilamente pelo local, como se não existisse a portaria proibitiva e preventiva da tragédia.

Há dias um confortável e elegante bitrem ficou encalhado na curva do Portão, impedindo o trânsito entre as duas cidades. Estou informado, inclusive, que uma dessas empresas está trafegando pela estrada proibida graças a uma liminar.

A solução para se preservar o Portão do Inferno seria uma grande e custosa obra de engenharia no local. Assim estaria garantida a proteção, tanto dessa beleza da natureza, quanto dos usuários da estrada. Mas, em vez disso, o que se vê é a tal da vaidade do poder. A estrada Cuiabá-Chapada dos Guimarães está sendo duplicada, porém, com um pequeno e curioso detalhe: somente até a entrada do luxuoso condomínio do Manso.

A duplicação da estrada até a cidade de Chapada ficará para depois. É a nefasta protelação das medidas de prevenção. Infelizmente o Portão do Inferno está no meio do caminho. "No meio do caminho tinha uma pedra, tinha uma pedra no meio do caminho." E como é caro resolver este problema no meio do caminho!

Nem com reza brava consigo engolir esse sapo! Fico até divagando bobagens quando vejo situações como esta. Por exemplo: Será que o turista europeu que virá assistir à Copa estará interessadíssimo em conhecer as mansões do lago artificial do Manso?

Se até a Copa, o Portão do Inferno ainda existir, com certeza que aqueles turistas irão querer conhecê-lo, assim como a Cachoeira Véu de Noiva, o Complexo da Salgadeira e a encantadora e bucólica cidade da Chapada dos Guimarães.

É triste viver em um país onde a catástrofe virou rotina. Que Nossa Senhora de Santana ilumine a todos nós!


Gabriel Novis Neves
é médico em Cuiabá e escreve às quintas-feiras em A Gazeta. E-mail: borbon@terra.com.br



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