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Opinião
Quinta - 27 de Janeiro de 2011 às 09:01
Por: Onofre Ribeiro

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Inadvertidamente o autor da novela “Insensato Coração”, da rede Globo, Gilberto Braga, causou uma revolução de identidade em Mato Grosso do Sul. Na conversa de dois personagens, um deles disse que ia para Bonito, em Mato Grosso. Foi o que bastou para levantar uma forte discussão em Mato Grosso do Sul. Bonito é uma das jóias da coroa sul-mato-grossense. É uma referência para o turismo de natureza de qualidade, com grande apelo nacional e internacional.

Pra muita gente a bronca é só paranóia. Mas não é. Eles tem razão por muitas razões históricas que não são mais lembradas atualmente. Acho bom recordá-las, até porque não se compreende o presente e, tampouco o futuro, se não se compreender o passado.

Mato Grosso e Mato Grosso do Sul nunca se entenderam muito bem tanto em termos da geografia, quanto do clima, na formação econômica e da formação humana. O Sul teve enorme influência mineira na formação da pecuária, e gaúcha, depois da Revolução Farroupilha, de 1935 a 1845, no Rio Grande do Sul. Os fugitivos refugiaram-se na região Sul de Mato Grosso, onde criaram um ambiente politizado e os primeiros sentimentos de separação do norte tão distante e tão ausente como governo do Estado. Depois de 1915, com a ferrovia, a influência passou a ser paulista.

A idéia de dividir Mato Grosso nasceu ainda no século 19, estendeu-se pelo século 20, e acabou acontecendo em 1977 na lei, e em 1979, na divisão geográfica e política. Voltemos à encrenca da novela que acabou por levar líderes de Mato Grosso do Sul a falar em plebiscito para a mudança do nome do estado. Eles acreditam que a semelhança dos nomes prejudica a imagem e investimentos para o estado.

Na realidade, quando a divisão já estava decidida, em abril de 1977 pelo presidente da República, general Ernesto Geisel, dois nomes eram discutidos para o futuro estado: Maracaju ou Campo Grande. Foi o ex-governador José Fragelli, natural de Aquidauana, no pantanal sul-mato-grossense, e uma das melhores cabeças da política mato-grossense de todos os tempos, quem desempatou a discussão com uma única frase: “não abro mão do privilégio de continuar sendo mato-grossense”.

Sua frase teve maior efeito, porque o seu pai, o farmacêutico Nicolau Fragelli, que viveu a maior parte de sua vida em Campo Grande, era um divisionista ferrenho e tornou-se grande líder político sulista.

Há 10 anos, o governador Zeca do PT, de Mato Grosso do Sul, teve a mesma idéia e chegou a propor um plebiscito para mudar o nome para Estado do Pantanal. A idéia não vingou, mas o sentimento de competição continua o mesmo. Mas a verdade mesmo, é que na época da divisão de 1977, o Sul tinha a certeza de que o norte não resistiria ao atraso na infra-estrutra e na economia em relação à sua região. E que o Sul seria um sucesso absoluto. Não foi bem o que aconteceu e deixou um ranço novo que somado aos ranços antigos cultivados e mantidos durante mais de um século, se transformassem no sentimento atual. Tenho convivência e relacionamentos em Mato Grosso do Sul. Curiosamente, o espírito de comparação e o divisionismo são muito vivos lá, ao contrário daqui onde aquela divisão está completamente fora da pauta de todas as discussões. O problema agora é da Rede Globo com os autores de suas novelas para não errarem mais o nome dos dois estados.


* ONOFRE RIBEIRO
é jornalista em Mato Grosso

onofreribeiro@terra.com.br



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