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Opinião
Sábado - 29 de Janeiro de 2011 às 00:57
Por: Lourembergue Alves

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O estar de férias é a oportunidade de conhecer lugares.  Também de experimentar coisas e de se ter a chance de “descobrir” curiosidades interessantes. Inclusive relacionadas a cuiabanos – vividos no pretérito. Sem precisar embarcar na “máquina do tempo”. Embora o meio utilizado pertença a outro momento histórico. Isso, por outro lado, dá a sensação de viver período bem distante do presente. É exatamente o que se sente ao passear de bonde. Passeio de duração de quinze minutos, cujo percurso se inicia no “Largo da Carioca”. Experiência que paga os trinta minutos de espera e a enorme fila. Pois o transporte atravessa a “Lapa” por cima dos “Arcos” e entra na rua “Joaquim Murtinho”, em “Santa Tereza”. 
 
Bairro surgido com a construção de um convento do mesmo nome, no século XVIII, em um terreno doado pelo governador Gomes Freire. Não demorou muito para que outras edificações fossem erguidas. O que levou o aparecimento de ruas, sempre seguindo o alinhamento do morro. Justificam-se, então, as ladeiras tortuosas e estreitas, através das quais se pode chegar a outras comunidades, entre elas “Glória”, “Catete” e “Cosme Velho”.  
 
Cenário escolhido pela classe alta da época. Até mesmo para fugir da aglomeração da área central. Motivo, igualmente, do cuiabano Joaquim Murtinho, que teve um chalé – construído ainda no Império – como moradia. Isso explica parte do por que ele se ausentava, e muito, de Mato Grosso. Embora tenha sido eleito senador pelo Estado, e, juntamente com o seu irmão, Manuel – ex-governador -, exerceu por certo tempo forte influência na política e economia mato-grossenses. Pois contava com um banco e a Mate Laranjeira. Fortuna que tem origem nos negócios iniciados durante o chamado “encilhamento” e nas concessões obtidas do governo federal. Poder que o fez ministro, e, nessa condição, arrumou dezenas de adversários, senão inimigos, particularmente aqueles que se viram prejudicados com suas ações à frente do Ministério da indústria, Viação e Obras Públicas e do Ministério das Finanças. 
 
Alguns desses inimigos chegaram o acusar de envolvimento com corrupção, bem como o apontavam como principal acionista da Ferro-Carril – Companhia de Bonde de Santa Tereza -, criada quando Joaquim Murtinho era ministro. 
 
Depois de morto, sua sobrinha e herdeira, Laurinda Santos Lobo, também cuiabana – nascida por volta de 1878 - reformou o dito chalé, nos anos de 1930. Deu a ele, o chalé, aspecto neocolonial, e o transformou em um local onde se realizavam saraus e encontros literários e musicais. Sempre influenciada por aquilo que estava acostumada a presenciar em Paris.

Contudo, após o falecimento de Laurinda, em 1946, a casa foi abandonada e quase destruída por inteira. As paredes remanescentes, desde 1994, constituem o que se chama hoje de “Parque das Ruínas” – um dos pontos turísticos da localidade. E não é para menos, pois dela se tem uma amostra do que se denominou de traçado neocolonial, além de uma belíssima vista do referido bairro.        
 
De todo modo, vale retomar, o cuiabano Joaquim Murtinho contribuiu bastante para a atual fisionomia do bairro de “Santa Tereza”. Mesmo que ainda seja, para a maioria dos passageiros dos bondes e muitos dos moradores do lugar, um notável desconhecido.     


Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.    


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