Investir antes que a luz se apague
Os apagões estão em alta. Segundo o ONS (Operador Nacional do Sistema), as interrupções no fornecimento de eletricidade quase dobraram nos últimos dois anos. Esse é um significativo sinal da necessidade de providências que não fiquem restritas ao discurso fácil e minimizador do problema, intentando pelo ministro Edson Lobão, das Minas e Energia. O governo, titular das concessões, tem de criar meios e exigir que o setor receba os devidos investimentos para, com isso, garantir a energia necessária à atividade econômica e ao desenvolvimento nacional.
Ao instituir sua matriz energética, o Brasil investiu na captação da energia dos rios, pelas usinas hidrelétricas, de operação mais barata e menos poluente que as térmicas movidas a combustíveis. Depois vieram as descobertas do petróleo no subsolo e a instalação da indústria petrolífera. O último século abrigou gigantescas transformações e nosso país, até então rural e escravagista, tornou-se uma das potências econômicas e industriais do mundo, com todos os bens e males dessa mudança.
Os aproveitamentos hidrelétricos dos rios “afogaram” extensas áreas antes dedicadas à agricultura e outras atividades básicas. Realizados sem cuidados ambientais, os projetos trouxeram problemas graves. Foram desenvolvidos celeremente, observando apenas a necessidade, cada dia maior, de eletricidade. Atrás de industrialização, vieram o êxodo rural, o inchaço das cidades, as migrações não planejadas e outras consequências. A sociedade desenvolveu mecanismos de defesa e aquilo que, durante muito tempo sustentou o desenvolvimento, tornou-se problema, constituindo hoje farta munição para os movimentos ecológicos, políticos, ideológicos, sociais e econômicos. É a segunda ou terceira geração de um processo, que carece da mão firme do governo e da sociedade, que têm hoje em mãos o grave dilema de progredir sem agredir e não permitir que o setor seja vitima dos ecochatos e de outros grupos de plantão que buscam apenas rendimento político ou econômico.
A falta de investimentos, mesmo na época das grandes obras, sempre foi crônica. Essa a principal justificativa para os apagões, que diminuíram com a privatização do sistema e agora voltam a aumentar. O governo tem de encontrar uma solução e garantir o abastecimento energético regular e seguro. Sem cuidar desse gargalo de infraestrutura, não será possível manter o discurso otimista e nem as perspectivas de, nos próximos anos, termos o Brasil colocado como quinta economia do mundo.
Apesar das tímidas iniciativas conservacionistas – troca de luz incandescente pela florescente e substituição de eletrodomésticos antigos por modernos de baixo consumo – ainda é preciso fazer mais. Esses programas têm de se ampliar para uma faixa maior da população. E a indústria, como grande consumidor, tem de receber o incentivo e as garantias de abastecimento para poder trocar a eletricidade pelo gás natural hoje abundante no litoral brasileiro e, apesar dos problemas, na vizinha Bolívia. O gás, também, pode movimentar usinas térmicas e ser transformado em eletricidade.
Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)
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