CANDIDO MOREIRA RODRIGUES
A lenda sobre a presença de Hitler em Mato Grosso! Hitler morreu em abril de 1945 em Berlin, juntamente com Joseph Goebbels
Hitler morreu em abril de 1945 em Berlin, juntamente com Joseph Goebbels (Ministro da Propaganda do Governo Nazista). Não se sabe exatamente se a sua morte se deu por meio de suicídio, com arma de fogo ou por meio do uso de um veneno chamado cianeto, amplamente utilizado durante a Segunda Guerra Mundial.
Não é novidade o fato de que muitos que se dizem historiadores venham a levantar hipóteses as mais diversas sobre as possíveis estadias de Hitler na América do Sul e a sua consequente morte num dos países desta região do mundo. Há relatos de que ele teria fugido da Alemanha e morado na Argentina, país com o qual os nazistas tiveram muito boas relações por longo tempo. Como exemplo desta vinculação importante com a Argentina, vale destacar, por exemplo, que um dos mais famosos criminosos nazistas, Adolf Eichmann, foi preso na Argentina em 1960 pelo Mossad (serviço secreto israelense). Eichmann, ligado à SS (grupo paramilitar de elite do regime nazista), era uns dos principais responsáveis pela logística que levava os judeus aos campos de concentração. Este processo é descrito magistralmente pela filósofa Hannah Arendt no livro “Eichamnn em Jerusalém – Um relato sobre a banalidade do mal”, publicado em 1963.
Também é verdade que muitos nazistas fugiram da Alemanha para o Brasil, em especial no final da Segunda Guerra Mundial, fixando-se principalmente nos Estados de São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Paraná. Cabe aqui citar que, mesmo antes destes deslocamentos, o Brasil já possuía uma Seção do Partido Nazista, com mais de 2.000 mil integrantes, como bem o demonstra a historiadora Ana Maria Dietrich no seu livro “Nazismo Tropical? O Partido Nazista no Brasil”, publicado recentemente.
Poderíamos citar aqui inúmeros estudos sérios sobre estas ou outras temáticas relativas ao nazismo, às suas consequências imediatas durante a Segunda Guerra Mundial ou à sua herança para os dias atuais. Notadamente, neste caso, a ascensão de ideias, grupos e partidos de extrema direita na Europa, defensores de alguns dos seus ideais, por exemplo, de superioridade, discriminação, segregação, xenofobia, nacionalismo exacerbado e uso da violência física contra minorias. Todas estas variantes podem ser percebidas na longa duração histórica, verificadas as suas raízes político-sociais por meio do trabalho de pesquisadores sérios em campos de estudos como, por exemplo, a Histórica, a Ciência Política, a Sociologia e a Filosofia.
Deste modo, recomendo aqui uma leitura importante sobre o tema, para que não venhamos a deturpar a memória histórica, ou fazer tábua rasa do passado, em especial daquele que trata de coisas tão caras à humanidade, como o aprisionamento de mais de 10 milhões de judeus (entre 1939-1945), dos quais, segundo Norbert Elias, “cerca de 5 milhões foram fuzilados, gaseados, mortos pela fome ou de alguma outra forma condenados à morte” pelos nazistas.
Diga-se de passagem que as razões pelas quais os nazistas perseguiram e assassinaram judeus, russos, poloneses, negros, ciganos, pessoas com deficiência física, e outros mais, fundam-se eminentemente na crença fanática em sua pretensa superioridade enquanto “raça pura” e na vontade de poder absolutizada na figura de um líder, o Führer, fanático destinado a guiar o “povo” alemão ao domínio europeu e mundial.
Assim, o dever de memória nos levar a procurar repor as coisas nos seus devidos lugares, para que não venhamos a repetir os erros trágicos do passado, muitos dos quais, inclusive, à sua época, considerados por muitos como verdades absolutas. Digo isto pois no caso que envolve o nazismo e a ação devastadora de Hitler face os judeus, segundo Norbert Elias, a crença era a de que havia uma pureza ariana, do ponto de vista biológico, a qual “exigia a remoção e, se necessário, a destruição de todos os grupos humanos ‘inferiores’ e hostis que pudessem contaminar ‘a raça’, sobretudo todas as pessoas de cepa judaica”. Enfim, estava ai estampado, nos dizeres de Elias, o “colapso da civilização” europeia.
Em síntese, considerado o cenário de ascensão das ideais neofascistas na Europa e em outras partes do mundo (muitas delas percebidas enquanto herança histórica trágica), face também ao cenário de crise econômica e social e à contestação da legitimidade dos governos estabelecidos, é razoável que tratemos a História com o devido respeito e rigor científico. Esta História, além de contribuir para explicar o passado mais distante, nos fornece elementos para entendermos como este passado compõe, em grande medida e às vezes de forma chocante, o nosso presente.
Por fim, tratar de uma temática de tamanha seriedade e custo histórico para a humanidade, requer do pesquisador envolvido o máximo compromisso e seriedades devidos. No caso dos historiados que se pretendam a tal feito, devemos cobrar-lhes rigorosamente um alto domínio teórico e historiográfico acerca da temática pesquisada e uma profunda pesquisa baseada em fontes, as quais deverão, por sua vez, ser das mais variadas categorias e passíveis de crítica. Passos estes que são fundamentais para que qualquer pesquisa de Historiador seja levada minimamente a sério e possa nos fornecer uma aproximação com a verdade dos fatos.
Recomendações de leitura
ARENDT, Hannah. Origens do Totalitarismo. São Paulo, Cia das Letras, 1989.
ELIAS, Norbert. Os alemães: a luta pelo poder e a evolução do hábitus no século XIX e XX. Trad.de Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Zahar, 1997.
HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos: o breve século XX (1914-1991). São Paulo: Companhia das Letras, 1999.
CÂNDIDO MOREIRA RODRIGUES é professor de História Contemporânea da UFMT
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