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CANDIDO MOREIRA RODRIGUES
Domingo - 26 de Janeiro de 2014 às 23:15
Por: CANDIDO MOREIRA RODRIGUES

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Hitler morreu em abril de 1945 em Berlin, juntamente com Joseph Goebbels (Ministro da Propaganda do Governo Nazista). Não se sabe exatamente se a sua morte se deu por meio de suicídio, com arma de fogo ou por meio do uso de um veneno chamado cianeto, amplamente utilizado durante a Segunda Guerra Mundial.

Não é novidade o fato de que muitos que se dizem historiadores venham a levantar hipóteses as mais diversas sobre as possíveis estadias de Hitler na América do Sul e a sua consequente morte num dos países desta região do mundo. Há relatos de que ele teria fugido da Alemanha e morado na Argentina, país com o qual os nazistas tiveram muito boas relações por longo tempo. Como exemplo desta vinculação importante com a Argentina, vale destacar, por exemplo, que um dos mais famosos criminosos nazistas, Adolf Eichmann, foi preso na Argentina em 1960 pelo Mossad (serviço secreto israelense). Eichmann, ligado à SS (grupo paramilitar de elite do regime nazista), era uns dos principais responsáveis pela logística que levava os judeus aos campos de concentração. Este processo é descrito magistralmente pela filósofa Hannah Arendt no livro “Eichamnn em Jerusalém – Um relato sobre a banalidade do mal”, publicado em 1963.

Também é verdade que muitos nazistas fugiram da Alemanha para o Brasil, em especial no final da Segunda Guerra Mundial, fixando-se principalmente nos Estados de São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Paraná. Cabe aqui citar que, mesmo antes destes deslocamentos, o Brasil já possuía uma Seção do Partido Nazista, com mais de 2.000 mil integrantes, como bem o demonstra a historiadora Ana Maria Dietrich no seu livro “Nazismo Tropical? O Partido Nazista no Brasil”, publicado recentemente.

Poderíamos citar aqui inúmeros estudos sérios sobre estas ou outras temáticas relativas ao nazismo, às suas consequências imediatas durante a Segunda Guerra Mundial ou à sua herança para os dias atuais. Notadamente, neste caso, a ascensão de ideias, grupos e partidos de extrema direita na Europa, defensores de alguns dos seus ideais, por exemplo, de superioridade, discriminação, segregação, xenofobia, nacionalismo exacerbado e uso da violência física contra minorias. Todas estas variantes podem ser percebidas na longa duração histórica, verificadas as suas raízes político-sociais por meio do trabalho de pesquisadores sérios em campos de estudos como, por exemplo, a Histórica, a Ciência Política, a Sociologia e a Filosofia. 

Deste modo, recomendo aqui uma leitura importante sobre o tema, para que não venhamos a deturpar a memória histórica, ou fazer tábua rasa do passado, em especial daquele que trata de coisas tão caras à humanidade, como o aprisionamento de mais de 10 milhões de judeus (entre 1939-1945), dos quais, segundo Norbert Elias, “cerca de 5 milhões foram fuzilados, gaseados, mortos pela fome ou de alguma outra forma condenados à morte” pelos nazistas.

Diga-se de passagem que as razões pelas quais os nazistas perseguiram e assassinaram judeus, russos, poloneses, negros, ciganos, pessoas com deficiência física, e outros mais, fundam-se eminentemente na crença fanática em sua pretensa superioridade enquanto “raça pura” e na vontade de poder absolutizada na figura de um líder, o Führer, fanático destinado a guiar o “povo” alemão ao domínio europeu e mundial.

Assim, o dever de memória nos levar a procurar repor as coisas nos seus devidos lugares, para que não venhamos a repetir os erros trágicos do passado, muitos dos quais, inclusive, à sua época, considerados por muitos como verdades absolutas. Digo isto pois no caso que envolve o nazismo e a ação devastadora de Hitler face os judeus, segundo Norbert Elias, a crença era a de que havia uma pureza ariana, do ponto de vista biológico, a qual “exigia a remoção e, se necessário, a destruição de todos os grupos humanos ‘inferiores’ e hostis que pudessem contaminar ‘a raça’, sobretudo todas as pessoas de cepa judaica”. Enfim, estava ai estampado, nos dizeres de Elias, o “colapso da civilização” europeia.

Em síntese, considerado o cenário de ascensão das ideais neofascistas na Europa e em outras partes do mundo (muitas delas percebidas enquanto herança histórica trágica), face também ao cenário de crise econômica e social e à contestação da legitimidade dos governos estabelecidos, é razoável que tratemos a História com o devido respeito e rigor científico. Esta História, além de contribuir para explicar o passado mais distante, nos fornece elementos para entendermos como este passado compõe, em grande medida e às vezes de forma chocante, o nosso presente. 

Por fim, tratar de uma temática de tamanha seriedade e custo histórico para a humanidade, requer do pesquisador envolvido o máximo compromisso e seriedades devidos. No caso dos historiados que se pretendam a tal feito, devemos cobrar-lhes rigorosamente um alto domínio teórico e historiográfico acerca da temática pesquisada e uma profunda pesquisa baseada em fontes, as quais deverão, por sua vez, ser das mais variadas categorias e passíveis de crítica. Passos estes que são fundamentais para que qualquer pesquisa de Historiador seja levada minimamente a sério e possa nos fornecer uma aproximação com a verdade dos fatos.

Recomendações de leitura

ARENDT, Hannah. Origens do Totalitarismo. São Paulo, Cia das Letras, 1989.

ELIAS, Norbert. Os alemães: a luta pelo poder e a evolução do hábitus no século XIX e XX. Trad.de Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Zahar, 1997.

HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos: o breve século XX (1914-1991). São Paulo: Companhia das Letras, 1999.

CÂNDIDO MOREIRA RODRIGUES é professor de História Contemporânea da UFMT




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