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Opinião
Terça - 22 de Março de 2011 às 15:19
Por: Gabriel Novis Neves

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No dia 1º de janeiro de 2003 a impressão que eu tive é que o Estado de Mato Grosso acabava de ser descoberto.

A única diferença é que desta vez não foi pelos bandeirantes. Não havia nada por aqui, a não ser alguns representantes da monarquia.

Os descobridores chegaram à Cuiabá após longas caminhadas pelo sertão, onde encontraram picadas feitas pelos índios, e alguns visitantes com interesses outros. Tudo estava ainda por acontecer.

Encontraram no Arraial um bando de gente despreparada e com ética colonial - onde o público é confundido com o privado.

Alguns, mais esclarecidos, interpretavam os moradores daqui como desonestos, especialmente com o dinheiro público.

Daquele dia em diante, tudo seria diferente e haveria quebras de paradigmas.
Quase 300 anos de história foram para o lixo.

Vendo imagens reais do nosso dia-a-dia pela televisão e ouvindo os necessitados sobre o sucateamento da saúde, educação, segurança, e transporte, acordei, pois tudo não passou de um grande pesadelo.

Hoje estamos piores que em 2003.

Falta esperança à minha gente, sentimento que nunca havíamos perdido.

As escolas, neste início do ano letivo, estão desabando, e as crianças dizendo nada entender daquilo que lhes é ofertado.

Fico com as crianças, que nem mais reclamam da qualidade do ensino oferecido, mas da impossibilidade de frequentar esses verdadeiros pardieiros apelidados de escolas.

Os doentes estão abandonados na fila da morte, sem rumo e sem destino, esperando um mandado judicial para uma internação ou aquisição de medicamento.

A violência é aferida na escala “Complexo do Alemão,” sem proteção da Força Nacional.
O pequeno efetivo da polícia militar está em desvio de função.

O morador desta cidade tem a sua segurança nas mãos de Deus.

Os descobridores aprovaram leis especiais para a sua proteção pessoal, da sua família e das suas propriedades.

Em arrombamento de caixas eletrônicos, já somos campeões brasileiros.
O paliativo nessas situações, e recomendável, é o uso do ópio.

E é exatamente o que os novos descobridores estão tentando implantar.

Nada melhor do que dizer, e divulgar, que todos os nossos problemas, reconhecidos por eles – culpando inclusive os índios de estar há tanto tempo por aqui sem nada fazer pelo crescimento do Estado -, serão resolvidos em apenas dois anos, com a realização da Copa.

A frustração do novo descobrimento em 2003 agora virá com a deficiência de recursos federais para a Copa 2014.

Desculpem-me. Foi outro pesadelo.

A verdade é que de frustração em frustração caminha o nosso Estado.

Apague 2003, que foi apenas mais um ano do nosso calendário.

Gabriel Novis Neves
 



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