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Opinião
Segunda - 28 de Março de 2011 às 15:20
Por: Félix Marques

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Falar que a "Copa do Mundo vem aí" alegra todo mundo e dizer que vários jogos serão realizados em Cuiabá deixa qualquer vivente mato-grossense cheio de orgulho e felicidade. É o mesmo sentimento da torcida do Corinthians derrotando o Flamengo no Maracanã.

Só que a sociedade não sabe que, no primeiro semestre de 2007, 18 cidades assinaram contrato com a Fifa (os "Host City Agreements"), cada qual se comprometendo ao uso de estádio esportivo, o que cada cidade deveria fazer, executar e aprontar para a Copa em termos de obras e obrigações logísticas.

Só que ninguém sabe o que as cidades se comprometeram e quem representou as cidades. Ninguém sabe que a Fifa constituiu uma empresa no Brasil para tocar a festança da Copa do Mundo, a "Copa do Mundo Comitê Organizador Brasileiro Ltda", Sociedade Limitada, com sede na Rua Victor Civita, nº 66, Ed. 05, Salas 501 a 503, Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, Registro Junta Comercial do Rio de Janeiro, em 11/06/2008, sob o nº 33.2.0813112-1, representada pelo seu diretor-presidente, Ricardo Terra Teixeira.

É essa empresa que está incumbida de zelar pela observância de todas as obrigações e prazos inerentes à organização da Copa do Mundo de 2014. Essa empresa está incumbida de acompanhar o andamento das obras e preparo das cidades para os jogos e aplicar as sanções pela Fifa, inclusive, descredenciando cidades que estiverem fora do cronograma estabelecido pela Fifa para os eventos.

Ninguém sabe que a Fifa, uma das entidades mais ricas do mundo, não vai gastar um centavo ou euro nas obras e preparo das cidades sedes da Copa, embora um diretor da Agecopa tenha afirmado à sociedade que "o evento é a maior fonte de renda da entidade promotora".

Não vai porque, em muitos casos, como Cuiabá, as autoridades envolvidas assumiram o compromisso de construírem estádios, ruas, praças e avenidas previstas nos "Contratos de Candidatura Local" que as autoridades representativas dos Estados e municípios se obrigaram, colocando nas costas do povo a "farra da Copa".

Em Cuiabá, ocorre a mesma coisa, pois Blairo Maggi, como governador, e Wilson Santos, como prefeito, assinaram Termo de Compromisso com a Fifa em 11 de novembro de 2008 e com aval da Assembleia Legislativa, representada pelo deputado Sérgio Ricardo, se comprometendo a "arcar com todos os custos direta ou indiretamente relacionados" com a participação na Copa.

Daí o motivo por que o Estado de Mato Grosso estar se endividando de todas as formas para tocar a construção do estádio, para tocar as obras de melhoramento da cidade com o inusitado projeto de "mobilidade urbana", carreando todos os recursos para esse compromisso e se esquecendo da saúde pública, da educação, da segurança pública e defesa do cidadão.

Isso levou o secretário de Saúde a afirmar ao povo que "não há recursos para construção de hospitais", que não há recursos para pagar condignamente os médicos da rede pública, não há recursos para "contratar defensores públicos" para defesa do cidadão e outros plus. Isso tudo está deixando deputados e vereadores insatisfeitos e a sociedade também.

Além dessa tragédia anunciada, vêm aí as desapropriações que poderão trazer muitas desgraças à centenas de comerciantes que representam o progresso de nossa Capital. Há quem afirme que a Copa vai deixar um "legado" para Cuiabá, mas que legado é esse?

É legado bom ou ruim? Ou será que vai trazer "rede de esgoto" nas duas cidades, canalização e cobertura dos córregos que cortam as duas cidades e que desembocam no rio Cuiabá, sem mencionar a preservação do rio Cuiabá que exige nas duas margens um canal coberto de "Esgoto Mestre" com estação de Tratamento de Água de Esgoto para lançar no rio água limpa, e ainda como a urbanização das duas margens com recuperação florestal, combate a erosão e ajardinamento das margens?

Vamos esperar. Ou será que o "legado" pós-Copa vai ser somente lamúrias e lamentações? Pois, Cuiabá vai viver época de terror, terror na saúde pública, terror nas escolas e terror na segurança pública, pois vamos herdar maloqueiros, delinquentes, traficantes, bandidos e malas de toda sorte, com violência nas ruas, praças e avenidas, visitantes indesejáveis morando debaixo dos viadutos, das pontes e malocas, prontos para atacar transeuntes, casas e residências no centro e nos bairros, arrastões nos pontos de ônibus, nos shoppings e restaurantes?

Finalmente, ubi veritas?

FÉLIX MARQUES é advogado, presidente da Comissão de Defesa do IBDI/SP.
felixmarques@terra.com.br
 



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