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Opinião
Quarta - 30 de Março de 2011 às 09:30
Por: Gabriel Novis Neves

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Leio na revista Veja, de 23 de março, na página 10, uma notícia que me chamou a atenção como médico e conhecedor do funcionamento do SUS.
Todo o povo brasileiro sabe que, o teoricamente, fantástico SUS, na realidade não funciona.

Tanto é verdade, que nenhum defensor do SUS, principalmente os políticos de Brasília e dos Estados e integrantes dos outros poderes, jamais procuraram o SUS, nem para um simples curativo.

O sucateamento do SUS, que é o plano de saúde de todos os cidadãos brasileiros, só é procurado pelos pobres e miseráveis.

Repito, o problema da saúde é nacional, e o próprio governo Federal chuta a Constituição Brasileira - "A saúde é um direito de todos e um dever do Estado."
Há um ano trocamos o governador de Mato Grosso, com a saída do titular para assumir uma carreira solo, bem distante dos nossos problemas.

O novo governador interino, em plena campanha para a reeleição, foi obrigado a engolir cobras e lagartos. Tudo estava perfeito e funcionando muito bem em nosso Estado.

Algumas pequenas trocas foram efetuadas visando sempre o ganho político.

Convida para o cargo de Secretário de Saúde um dos médicos mais conceituados de Cuiabá, e reconhecido nacionalmente como um bom gestor em saúde.

No dia da posse, promete implantar o Programa Fila Zero para cirurgias eletivas. Tínhamos à época um numero vergonhoso de pacientes, numa fila que não andava.

Sabem como se encontra esse programa? O Secretário de Saúde não ficou um mês no posto, pedindo para sair sem dizer uma palavra de público.

Assumiu o seu lugar um bom gestor, não médico, e sem poder político.

A Fila do "Programa Fila Zero" para cirurgia proliferou de tal monta, que hoje temos 10 mil infelizes, aguardando por uma cirurgia eletiva.

Há quase três meses, o secretário é um médico, com carteirinha de deputado Federal.

Político experiente, o nosso colega secretário logo fez o diagnostico da saúde pública em nosso Estado. Começou a denunciar as coisas mal feitas nos últimos oito anos.

Foi lembrado que não poderia fazer isso, pois afinal era um governo de continuação em que todas as áreas da administração foram bem atendidas.
Nosso secretário, que é médico legista do Estado, fez a verificação de óbito no cadáver da nossa saúde.

Causa mortis: falência múltipla dos serviços públicos.

Com essa informação privilegiada, não seguiu o exemplo dos outros seus três colegas, que somando os seus mandatos, não conseguiram ficar dez meses no cargo.

Encontrou uma ótima saída política: jogar nas costas da Organizações Sociais (OSs), a responsabilidade sobre a gestão da saúde em Mato Grosso.

Essa é uma pequena fotografia da saúde no Brasil.

Transcrevo a matéria da Veja: "Uma mulher de 38 anos, no início de abril vai se deitar em uma mesa cirúrgica para se submeter a um procedimento que transformará o seu corpo. De lá, ela sairá sem útero, ovários e trompas. Em data ainda a ser definida, passará pela extração das mamas. As cirurgias serão todas custeadas pelo SUS".

Longe de mim a intolerância ou o preconceito. A medicina existe para minorar o sofrimento humano, tanto orgânico, quanto emocional, e a Constituição Brasileira garante a todos o tratamento pelo SUS.

Causa estranheza que uma cirurgia complexa para a retirada de órgãos sem nenhuma patologia gerando risco de morte fure a fila, e um portador de câncer do pulmão, fique meses na fila para fazer uma simples broncoscopia, para com o resultado histológico, iniciar a desesperada luta pela vida.

Todos os pacientes têm os mesmos direitos perante a Constituição. A única função do médico é disciplinar o atendimento.

Se, hipoteticamente, tivesse uma única vaga para cirurgia, diante desses dois casos, daria oportunidade ao paciente com câncer de pulmão.

Não seria notícia na Veja.

GABRIEL NOVIS NEVES é médico em Cuiabá e foi reitor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).



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