Cuiabá, 300 anos!
O leitor pode se acalmar que o articulista não errou nas contas nem endoideceu. Todos sabemos que Cuiabá completa na próxima sexta-feira 292 anos de fundação. E todos nos regozijamos com a data, e rendemos nossas mais sinceras homenagens a esta terra. Se pudesse resumir Cuiabá, diria apenas a palavra oportunidade. Oportunidade de viver, de amar, de crescer, de conviver, de retribuir. Oportunidade de trabalhar, de casar, de ter filhos, de educá-los - tão cuiabanos quanto nós, paus-fincados, não o pudemos ser. Oportunidade de falar dgente, djuca, vôte, agora quando. Oportunidade de comer cabeça de pacu, dançar rasqueado, tomar guaraná ralado. Oportunidade de apelidar os amigos, e ser troçados por eles. Oportunidade de interagir com as gentes de todo canto e tipos que encontramos aqui. Enfim. Cuiabá é tudo isso e muito mais para cada um de nós.
Mas, homenagens rendidas, o título deste artigo retoma um ponto. Cuiabá se ressente de um planejamento de médio e longo prazos. A prefeitura, no início da gestão Wilson Santos, até que ensaiou os primeiros passos. Trouxe consultor de fora, já experimentado em iniciativas semelhantes. Iniciou mobilização da sociedade, propalou o feito, mas o interrompeu tão rápido quanto o começou. E nunca explicou direito as razões.
A vinda da Copa do Mundo de 2014 criou uma euforia coletiva, e todos se esqueceram do tal planejamento de longo prazo. Desde 2009, vimos depositando todos os nossos ovos de Colombo na única cesta da copa. Cesta essa que, de tão disputada e negligenciada, começa a quebrar os ovos.
Claro que a copa é importante. Talvez o maior acontecimento de Cuiabá, do ponto de vista do seu desenvolvimento econômico, desde a divisão do Estado, em 1978. Mas, e no dia seguinte? O que estamos fazendo agora para que seus efeitos se perenizem? Estamos planejando direito ao menos esse grande evento?
Pelo noticiário desde o fim do ano passado fica a impressão que se houve algum planejamento foi para a conquista da vaga de Cuiabá como uma das sedes. O planejamento para daí em diante, caso exista, revela-se débil ou inadequado. De que outra maneira, afinal, poderíamos interpretar a crise que circunda a Agecopa, a Assembléia e o Governo do Estado?
Além da Copa, Cuiabá viverá outros 300 anos, no mínimo. Não é tarefa desta geração enxergar tão longe. Afinal, planejamento não é peça de ficção científica para cinema. Mas, nossa geração deve ter compromisso de preparar as coisas ao menos para as duas gerações seguintes. Logo, pensar nos primeiros 300 anos talvez já seja uma atitude tardia.
Falamos no escopo das oportunidades que Cuiabá dá as pessoas. As daqui e as de fora. Está na hora de as pessoas pensarem nas oportunidades para a cidade de Cuiabá. A recíproca para a cidade é, na verdade, para as próprias pessoas. Como dizia Alves de Oliveira, a cidade vive dos que vivem nela. E as pessoas devem viver um pouco para a cidade na qual vivem.
Do cidadão comum espera-se um comportamento minimamente civilizado e sustentável. Limpar seus terrenos, destinar adequadamente seu lixo, evitar queimadas, poluição visual e sonora, pagar taxas e impostos. Das autoridades, espera-se mais, afinal elas disputam eleições para terem esse encargo extra de representar a coletividade. Das autoridades, espera-se ao menos que consigam planejar o futuro de daqui a oito anos, que consigam ver além da copa, além das próximas eleições, além das jogadas de marketing.
Cuiabá chegará aos 300 mesmo sem planejamento algum. É sua sina seguir adiante, crescendo, se desenvolvendo. Chegará certamente aos 600, da mesma maneira que o Brasil chegou aos 500. E, do ponto de vista histórico, ainda será uma adolescente quando isso ocorrer. O que se espera das autoridades e dos cidadãos - e esses são meus votos nesse 292º aniversário, é que todos e cada um façam sua parte para que nossa geração seja lembrada com orgulho e saudade quando lerem, no futuro, sobre nossas atitudes no tempo presente.
(*) KLEBER LIMA é jornalista em Mato Grosso. E-mail: kleberlima@terra.com.br
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