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Opinião
Quinta - 14 de Abril de 2011 às 08:29
Por: Kleber Lima

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O melhor debate político brasileiro desde as eleições de 1989 está em pleno curso no país, e deve ser creditado ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Em artigo publicado originalmente na Revista Interesse Nacional, FHC faz uma ampla e fundamental reflexão sobre o papel da oposição e dos partidos políticos no atual momento brasileiro. Em que pese haver muito com o que divergir dele em muitos pontos, há que se reconhecer que FHC toca num assunto central da nossa estrutura política: nossos partidos, tanto os da situação como os da oposição, precisam se reinventar, sob pena de se afastarem cada vez mais da realidade e dos anseios do povo brasileiro.

A principal polêmica causada pelo artigo de FHC está num trecho curto no qual ele diz que o PSDB, em particular, e a oposição ao governo petista, em geral, vai continuar chovendo no molhado e acumulando derrotas políticas e eleitorais enquanto disputar com o PT qual dos dois tem a maior influência de massa no Brasil, no chamado povão. O trecho selecionado para a polêmica já demonstra a pobreza da visão de políticos do próprio PSDB, tido como novidade, como Aécio Neves, que se apressou a contestar os argumentos de FHC pelo instinto eleitoral. Mas, o debate é muito mais profundo que uma eleição.

Para FHC – e aqui surge a primeira divergência central – o PT cooptou o movimento social a custa do Estado. Mas, acerta quando diz que o PSDB e as oposições precisam enxergar novos segmentos que vão surgindo na sociedade, e que não estão representados pelo petismo.

Na verdade, essa cegueira e essa distorção na representação social dos partidos brasileiros não é privilégio do PSDB e do DEM, mas uma deficiência extensiva a rigorosamente todas as legendas, incluindo o PT, que se distanciam cada vez mais das reais preocupações dos cidadãos comuns, do povo, nos seus diversos segmentos, especialmente nessa nova massa hedonista e desertora de causas sociais que temos nos tempos modernos.

Venho falando disso há algum tempo. Creio que a sociedade civil, tal como a conhecemos pelo olhar de Gramsci, faliu, e partidos, sindicatos, associações de bairros, escola, etc, já não são aparelhos ideológicos de Estado, no dizer de Lênin, com o papel que já ocuparam desde há três séculos. Talvez a igreja – que se reinventou primeiro – ainda exerça o antigo papel.

Uma nova sociedade civil emerge, o que exige dos partidos, dos políticos, das universidades, enfim, da intelectualidade brasileira, um novo pensar sobre ela, com novas abordagens, novas linguagens, sob pena de serem todas atropeladas por movimentos espontâneos da massa - ou orientados, na verdade, por visões fascistas ou retrógradas, travestidas de vanguardistas.

A polêmica provocada por Fernando Henrique Cardoso, a meu ver, tem o papel de despertar a todos para esse grande debate tão necessário para a democracia brasileira, antes que os Tiriricas e Bolsonaros da vida (em que pese as gritantes diferenças entre os dois personagens citados), acabem ditando a pauta nacional.

Uma das provas irrefutáveis dos argumentos de FHC é fissura no DEM – com extensão em outras legendas – para o surgimento do PSD de Gilberto Kassab. Insatisfeito com a postura negligente da oposição tradicional encabeçada pelo DEM e o PSDB, Kassab preferiu criar um novo partido, ainda sem muita identidade ideológica, mas no qual possa se relacionar de forma mais harmoniosa – ou menos conflitante – com os demais partidos, inclusive o PT.

Talvez nem o próprio Kassab imaginasse quando teve a iniciativa que essa angústia que o acometia no DEM fosse ressoar em tanta gente e em tantos partidos como, de fato, acabou acontecendo. Contudo, não vai adiantar trocar de partido mantendo as mesmas práticas e a mesma cegueira. Se o artigo de FHC tivesse sido publicado um pouco antes, talvez o PSD não chegasse a ser cogitado.

 

(*) KLEBER LIMA é jornalista e consultor de marketing em Mato Grosso. E-mail: kleber@hipernoticias.com.br
 



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