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Opinião
Quarta - 18 de Setembro de 2013 às 13:02
Por: Gabriel Novis Neves

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 O poeta tinha razão quando disse que “quem sabe faz a hora, não espera acontecer”.

Há um ano, pensei em fazer “minha hora” como médico de consultório.

Excelente de saúde física e mental quis o destino que as articulações dos meus joelhos me avisassem que tinha chegado ao final a carreira profissional de médico das urgências e emergências, que é o mundo da obstetrícia.

Já enfrentei várias situações em que não me sentia preparado - desde o meu nascimento em casa, em morte aparente e com baixo peso.

Os primeiros estudos em Cuiabá. O sonho de ser médico, formado pela melhor escola de medicina do Brasil, a nossa querida Faculdade da Praia Vermelha, no Rio de Janeiro.

Casamento, filhos, luta pela sobrevivência, a viuvez não esperada.

O recomeço e o tempo passando. Tudo mudou. Éramos nove irmãos. Somos oito. Minha família, agora, sou eu. Meus filhos constituíram novas famílias, assim como meus irmãos, sobrinhos e primos.

Passei a publicar os meus sonhos na imprensa. E o tempo passando deixando saudades daqueles que partiram.

Temo ficar sem contemporâneos para conversar. Novas amizades neste período são mais difíceis de serem feitas. Desconfio ser o idoso mais seletivo e exigente nas suas escolhas.

Quando isso acontece, é importante guardar o prêmio recebido no cofre forte das emoções.

Sempre temia o momento do afastamento do atendimento aos meus clientes.

Precisei de energia - que nem sei onde a encontrei - para evitar essa separação do velho aparador de crianças que, por mais de meio século, cortou muitos cordões umbilicais.

Não fosse a minha psicoterapeuta, estaria amargurando o sabor de uma derrota evitável. Muito trabalho, disciplina e obstinação, restituíram-me ao meu ambiente: a sala de partos. Após um ano de ausência voltei a cortar o umbigo de uma menininha - a minha grande vitória.

É o feitiço virando contra o feiticeiro. O tempo, e só ele, seria capaz de me separar da razão de tudo que sei e aprendi, e que foi adquirido com esse contato diário com os meus pacientes.

Sinto que afastado deles perco metade de mim. É o inevitável ciclo vital, cuja fuga é impossível.

Quem sabe faz a hora. Esta felizmente ainda não chegou para mim.

Continuarei, espero que por longo tempo, nessa missão e em outras frentes de trabalho humanizado.

“Toda gente é capaz de sentir os sofrimentos de um amigo. Ver com agrado os seus êxitos exige uma natureza muito delicada.” Oscar Wilde.
 



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