Dramalhão petista
Não há mal que sempre dure nem bem que nunca acabe. Essa antiga expressão popular vem bem a calhar sobre os últimos acontecimentos envolvendo o glorioso e combativo Partido dos Trabalhadores em Mato Grosso. As punições aplicadas pelo Diretório Regional aos militantes considerados infiéis nas eleições do ano passado são apenas mais um capítulo de um dramalhão iniciado há décadas na agremiação aqui no Estado. Pelas reações dos punidos, percebe-se que ainda não vimos o capítulo final.
Dizer que o PT chegou ao fundo do poço é redundante. Entender como o partido conseguiu se destruir aqui, enquanto se fortaleceu no resto do país, em pleno exercício do poder central da República, todavia, pode ajudar a ele próprio e a outros a não cometerem o mesmo erro novamente.
O PT nasceu num momento delicado e interessante da política brasileira e mundial. Nasceu e floresceu em plena ditadura militar, enquanto os partidos de esquerda eram perseguidos e aniquilados pela repressão.
Mesmo assim, assumindo um discurso de esquerda, socialista, popular. Isso já seria motivo suficiente para gerar a desconfiança dos demais partidos de esquerda. O que piorou quando, a pretexto de reforçar seu DNA ideológico - a democracia –, o PT adotou o liberalismo interno para resolver as diferenças políticas e ideológicas de um partido de massas, que se declarava socialista, mas que era formado por segmentos muito diferentes entre si - de operários semi-alfabetizados a intelectuais da USP.
A democracia interna do PT é e sempre foi um arremedo. De fato, era e é liberalismo, vício da influência pequeno burguesa dos intelectuais, que queriam ser diferentes, mas não tinham coragem e consistência ideológica suficientes para adotarem o modelo de partido bolchevique, cuja disciplina interna é bem mais rígida, e não aceita rebeldias depois das decisões tomadas – o chamado centralismo democrático.
Em Mato Grosso, esse liberalismo pequeno burguês gerou conflitos de inimigos no lugar da fraternidade proletária. Os grupos se iam formando em torno de plataformas próprias, e não as do partido. Cada grupo, por sua vez, se opunha aos demais de forma até mais viril e agressiva que os embates com as agremiações da chamada “direita”. Tanto assim, que houve um tempo a partir do qual – e isso pouco antes da eleição do Lula –o PT passou a admitir a existência de correntes de direita no seu seio – ao menos nas acusações dos grupos minoritários ao campo majoritário, que também já se chamou “Articulação”. De tão doido isso, era risível.
Fora eventuais motivações de cunho pessoal que possam haver, isso explica do ponto conceitual como os grupos de Serys e Carlos Abicalil se tornaram inimigos públicos irreconciliáveis em Mato Grosso.
De fato, se tornaram forças antagônicas – e a dialética nos explica que esse tipo de antagonismo só acaba com a supressão de uma força por outra, ou pela destruição de ambas em combate.
É, infelizmente, a hipótese que se está provando em Mato Grosso. O PT vive certamente seu pior momento no Estado, tendo eleito apenas um deputado federal e um estadual ano passado, quando tinha a oportunidade de eleger um senador, um federal e uma bancada de pelo menos uns cinco estaduais.
Se os infiéis estão sendo punidos justa ou injustamente, portanto, é uma discussão acessória e improdutiva. O fato é que o PT não comporta correntes inimigas como as que se instituíram em Mato Grosso. Talvez essa purgação possa representar uma oportunidade para o partido renascer. Afinal, em um barco em que cada tripulante rema para um lado e direção opostos, só terá sucesso no naufrágio.
(*) KLEBER LIMA é jornalista, consultor de marketing e Diretor do site Hipernoticias. E-mail: kleber@hipernoticias.com.br. www.hipernoticias.com.br
Comentários