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Opinião
Quinta - 16 de Junho de 2011 às 17:38
Por: Gabriel Novis Neves

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Na época da minha meninice e juventude, Cuiabá era uma cidade tranquila e aconchegante. As suas calçadas, por exemplo: as calçadas da cidade eram verdadeiras salas de visitas. O lugar predileto para receber amigos para longas conversas. As cadeiras de balanço eram presenças obrigatórias – símbolo de acolhimento e serenidade. Os refrescos de frutas – colhidas no fundo dos quintais -, o cafezinho moído na hora - e passado em coador de pano -, acompanhado pelos deliciosos salgadinhos caseiros - servidos em recipientes de vidro da Casa Orlando, completavam este cenário de cordialidade e fraterna convivência entre os amigos.

São imagens longínquas, mas que me dá prazer relembrar, pois me remete a um tempo seguro e confortável.

A minha geração talvez tenha sido a última das cadeiras nas calçadas. Nunca imaginei que um dia as calçadas da minha cidade seriam transformadas em lugares perigosos, onde as pessoas colocariam em risco as suas vidas.

As antigas salas de visitas improvisadas da cidadezinha do interior, com a chegada do “progresso”, tirou de imediato as cadeiras de balanço das calçadas, e os seus moradores passaram a frequentar as janelas coloniais para conversar com aqueles que passavam.

O campeão na modalidade janela para conversar, foi o nosso historiador Estevão de Mendonça.

Com o avanço do progresso, as portas e janelas escancaradas das casas cuiabanas foram fechadas com trancas de madeira reforçadas. Mas, não foram suficientes. Então, elas foram trancadas com grades de ferro.

O progresso é necessário, claro. Entretanto, quando ele ocorre de forma irresponsável e gananciosa, enclausura o habitante, pois, no seu rastro, vêm os crimes, das mais variadas origens. E o cuiabano, ficou enclausurado. Passou a conviver, e não é privilégio dele – com o medo.

Mas, e as nossas calçadas? Aquelas em que os cuiabanos adotavam como parte da casa? Eu respondo: elas foram estupradas pelo progresso paranóico e feroz, e, acima de tudo, pelo descaso das autoridades.

Um olhar mais atento para elas, nem precisa de muito esforço, e pode-se verificar que as calçadas da cidade são simplesmente intransitáveis.

Foram transformadas, de salas de visitas, em verdadeiros laboratórios de problemas sociais.

Encontramos por elas, bandidos de todas as categorias sociais, psicóticos, dependentes químicos, pequenos infratores, desocupados, fugitivos da lei. A par disso, temos calçadas com degraus, fora do nível, com postes e árvores no seu centro, terrenos murados invadindo seu espaço e reduzindo-as ao meio-fio. Calçadas com buracos, com drenagem de esgoto a céu aberto, bocas de lobo sem tampa, pisos levantados por raízes de árvores, automóveis, lanchonetes, pequeno comércio informal, cães perigosos livremente transitando sem as suas coleiras e proteção de boca.

Hoje, as nossas calçadas são lugares perigosos, a exigir muito cuidado.

Por recomendação médica e insistência da minha mulher, há vinte anos caminho pelas ruas de Cuiabá. No início quase abandonei esse saudável e terapêutico hábito.

As dores musculares e a preguiça, foram minhas mais sérias inimigas. Venci esse período quando passei a descobrir os efeitos das endorfinas e a melhoria da minha capacidade física.

Nunca mais deixei de caminhar pelas calçadas das ruas da velha capital. Descobri maravilhas impensáveis, e a tudo fotografei. Mas, o mais difícil de se encontrar na cidade da Copa, é uma calçada dentro dos padrões técnicos.

Só resta então ao pedestre: caminhar atento, para desviar-se das surpresas desagradáveis, ou, caminhar olhando para o chão, a fim de se evitar as topadas e tombos - que podem colocar em risco a vida dos mais incautos. Mesmo assim, as calçadas vão continuar a fazer vítimas.

E, em nome delas, atrevo-me a fazer um apelo às autoridades competentes: coloquem no pacote das obras da Copa, a revitalização das nossas calçadas.


Gabriel Novis Neves

 



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