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Opinião
Segunda - 04 de Julho de 2011 às 07:58
Por: Lourembergue Alves

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A despeito de todo o avanço da tecnologia e das formas de comunicação, a carta – ainda hoje – é utilizada. Foi, nas épocas sem a Internet e sem o celular, bem mais do que é nos dias atuais. O tempo, agora, é outro. Muitíssimo diferente do pretérito. O uso da carta, felizmente, não caiu em desuso. Ela continua sempre reveladora. Revela, além de outras coisas, a tristeza e a indignação. Exatamente isso, aliás, que se percebeu na que fora endereçada ao Diretório Municipal do PT/RJ, na última segunda feira (27/06).
 
Seu autor não poderia ser outro, senão uma das figuras políticas que mais se identifica com a esquerda no país, e, talvez, a única – com tamanha identificação - que ainda se encontrava nas fileiras petistas. Pois, vários – de igual característica – há muito já tinham deixado a dita sigla. Decisão que, por certo, o sociólogo Florestan Fernandes também teria tomado, caso a morte não o tivesse levado primeiro.

Pois seu olhar, de crítico cuidadoso, logo teria notado e se indignado com a mudança de rota do partido que ajudou a fundar. Assim como fizeram Plínio de Arruda Sampaio, Hélio Bicudo e, agora, recentemente, Vladimir Palmeira, cujo pedido de desfiliação foi assim justificado: “Sempre me coloquei mais à esquerda da linha oficial, mas nada que, nas circunstâncias brasileiras, me levasse a deixar o partido. No entanto, à volta ao partido de Delúbio Soares, justamente expulso no ano de 2005, me impede de continuar nele (...) Pela questão moral porque é evidente que houve corrupção (...) Pela questão política porque o PT assumiu um compromisso com a sociedade, quando apareceram as denúncias: o compromisso de punir (...) Pela questão orgânica, porque o ex-tesoureiro não só agiu ilegalmente com relação à sociedade, mas violou todas as normas de convivência partidária (...) A volta de Delúbio faz com que todos se pareçam iguais e que, absolvendo-o, o DN (Diretório Nacional) esteja, de fato, se absolvendo. Ou, mais propriamente, se condenando, ao deixar transparecer que são todos iguais. Não creio que o sejam ...”
 
São palavras fortes, sem serem deselegantes com quem esteve lado a lado durante mais de três décadas. Embora se saiba que o estar ladeado com algumas pessoas, não significa compartilhar com elas das mesmas trincheiras. Aliás, o próprio Palmeiras não deixa dúvida quanto a isso. Seu campo de ação se construiu a partir do instante em que começou a fazer política estudantil, e ganhou visibilidade tão logo se afeiçoava a ideologia de esquerda, ainda que seus traços familiares – enraizados aos do coronelismo alagoano – rejeitassem tal postura. Pois seu pai vinha da estirpe política da UDN - nordestina. Porém, tal origem não lhe serviu de empecilho, nem de camisa de força. Abraçou, então, de corpo e alma a dita ideologia, cuja bandeira levou inclusive para a tese de doutorado que escreveu e defendeu. Não escondia, portanto, suas convicções, nem buscou um guarda-chuva para escamoteá-las, como fizeram alguns que o ombreavam à época, e, hoje, se sabe que esses “alguns” se valeram da bandeira da esquerda para poderem ocupar um lugar privilegiado no tablado da política nacional. Neste particular, o ex-ministro José Dirceu é um exemplo significativo.

Ao contrário do que foi, e é Vladimir Palmeiras. Este não se valeu da desculpa “de arrumação da imprensa marrom” ou “sensacionalista” para defender o PT do “mensalão”, nem fez coro “do nada saber” entoado pelo ex-metalúrgico Lula da Silva na presidência da República. Ficou indignado. Deixou abaixar a poeira de outros episódios, em que o PT se viu envolvido como protagonista, para desfiliar-se da agremiação petista. Sua carta é bastante reveladora. Deveria servir de objeto de reflexão e de discussão para muitos militantes da referida sigla.      

Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br
 


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