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Opinião
Quarta - 06 de Julho de 2011 às 23:19
Por: Ana Cristina Fulini

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Maconha é uma droga psicoativa que causa dependência emocional e alterações na percepção dos sentidos, gerando uma nova ordem de funcionamento no cérebro.
           
É muito complexo abandonar o hábito de fumar maconha. A falta da droga se reflete em dores de cabeça, irritabilidade e desmotivação, aliviadas somente pela retomada do uso.
           
Nem todo o usuário de maconha migra para outras drogas, mas quase todos ou começaram pela maconha ou a utiliza para se aliviar da paranoia causada pelas outras drogas.
Como coordenadora do departamento de dependência química da Clínica Maia e trabalhando com usuários há 11 anos, tenho algumas observações na prática clínica que quero compartilhar. Somos a favor de um plebiscito sobre a criminalização da droga no nosso país. Somos a favor de ouvir as famílias de dependentes químicos e grupos de auto ajuda que socorrem diariamente pessoas envolvidas com a maconha.
           
Nós pulamos etapas ao discutir o que fazer com uma droga ao invés de discutir o destino de uma pessoa que precisa usar uma substância pra se sentir normal e o atendimento de saúde que temos atualmente.
           
Em qualquer pesquisa que se faça aos profissionais da área da saúde, não ouviremos de nenhum deles a recomendação de uso de maconha para qualquer finalidade. Ou seja, porque nós precisamos regulamentar uma droga psicoativa que nos dá números de danos irreversíveis à saúde tão contundentes?
           
Em um seminário recente para alguns profissionais da área da saúde que aconteceu no Palácio dos Bandeirantes, no Estado de São Paulo, ouvimos uma autoridade americana em prevenção ao uso de drogas falar sobre o sucesso da diminuição da epidemia de crack em seu país. De acordo com o que foi apresentado, todos os estados americanos que regulamentaram a maconha se arrependeram muito devido os danos causados à saúde nessas comunidades. 
           
As políticas de combate às drogas devem caminhar juntas na esfera da prevenção, tratamento e repressão. 
           
Sobre tratamento, na minha área de atuação, alerto para a baixa assistência e falta de vagas na rede de internação para o sistema público de saúde. Hoje não temos nem 10% de leitos no Estado de São Paulo para a proporção de pessoas que precisam de assistência. É necessário ter leito para desintoxicação, atendimento à família do paciente internado e reinserção social. 
           
Na área da segurança, é preciso ter vigilância nas fronteiras, leis rígidas ao narcotráfico, a não facilitação de saídas de insumos que produzem drogas, como a acetona. Na legislação, penas justas ao dependente químico que causou ato infrator com máxima assistência e vigilância indireta. E para completar, a prevenção deve ser feita a partir de programas de conscientização e sensibilização nas escolas, famílias e comunidade.
           
Pergunte aos profissionais da área da saúde o que enfrentam todos os dias, aos policiais que resgatam pessoas alucinando, andando na contramão de rodovias, mães e pais de usuários de maconha que ficam em casa o dia todo, dormindo, comendo, sem motivação para buscar trabalho ou relacionar-se socialmente como deve ser tratada a questão das drogas. 
           
Atitudes sociais irresponsáveis refletem diretamente nas famílias. Nas escolas, muitos alunos se divertem falando de maconha pois é “leve, e faz parte de uma cultura, faz transcender, acalma, me comunica comigo mesmo” – o que na realidade ilude, aprisiona e faz sofrer. 
           
A maconha também sofreu modificações e misturas para potencializar seus efeitos narcóticos e viciantes. Não é uma plantinha que se deixar secar e que se fuma em seguida.       
           
As drogas legais, como nicotina e álcool, já causam danos suficientes à população mundial. Não precisamos de mais uma substância para engordar esses números.

Ana Cristina Fulini, terapeuta ocupacional, especialista em dependência química há 11 anos e coordenadora terapêutica da Clínica Maia.
 



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