De Mateus
Hugo Chávez o ícone do bolivarianismo que governa a Venezuela com mão de ferro submeteu-se a cirurgia em Cuba para extrair tumor maligno. A revelação partiu do próprio Chávez pouco depois de deixar o hospital.
A ida de Chávez em busca de tratamento no feudo dos hermanos Castro tem lá suas razões. A medicina da Ilha supera os serviços médicos venezuelanos e em Havana o tenente-coronel que se faz presidente foi para a mesa de operação embalado pelo carinho dos camaradas cubanos num clima emocional altamente favorável ao paciente, situação essa que ele não teria em sua terra.
Peço a Deus que cure Chávez e que ele recupere a saúde plena. Este sentimento, cristão, no entanto, não me faz defensor da generosidade da presidente Dilma Rousseff e de seu antecessor Lula da Silva, que ofereceram tratamento no Brasil ao colega e camarada socialista.
Aos 49 anos, meu pai, Agenor Vieira de Andrade, morreu vítima de câncer em 11 de julho de 1961 - portanto há 50 anos - numa época em que esta doença registrava 100% de letalidade por falta dos medicamentos e tratamentos ora disponíveis no Brasil. Sei a dor que sofre a família de quem enfrenta esse problema, mas mesmo assim discordo do uso da Presidência para afagos diplomáticos motivados pela comoção de companheiros em armas, por mais que a versão oficial insista que tão concessão seria a custo zero ao Brasil.
Se Chávez fosse venezuelano comum poderia recorrer à nossa precária saúde pública e se pudesse bancar o tratamento deveria bater à porta da especialidade oncológica que atendeu Dilma e que prolongou a vida do honrado José Alencar de saudosa memória para o povo brasileiro. Porém, trata-se de um homem que detém poderes incomuns e que encontra na Ilha atendimento do melhor padrão internacional.
O Jornal Nacional acaba de exibir uma série sobre câncer de mama, revelando deficiência e insensibilidade da saúde pública com pacientes humildes que travam luta pela vida ao ritmo das badaladas do relógio.
Se Dilma não sabia da realidade da saúde pública no atendimento a pacientes com câncer, agora sabe e enquanto presidente tem que reverter a precariedade do atendimento médico ao brasileiro, cobrar resultados, investir na área, exigir controle permanente dos gastos nesse setor e ampliar a rede hospitalar conveniada.
Enquanto houver um brasileiro à espera de tratamento contra o câncer a presidente não pode posar de boa samaritana com seu universo ideológico fora de nossas fronteiras. No exercício da Presidência é dever de Dilma praticar a máxima: “Mateus, primeiro os teus”.
Eduardo Gomes é jornalista
eduardo@diariodecuiaba.com.br
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