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Opinião
Terça - 12 de Julho de 2011 às 11:45
Por: Lourembergue Alves

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A divulgação e a apuração das denúncias são peças de um mesmo jogo: o democrático. Jogo este em que inexiste espaço para um News of the World, tampouco para o caça as bruxas. Ainda que se tenha, e se vê muito isso com a repetição da veiculação das ações corruptas, a qual pode provocar consequências ou repercussão política bastante forte. 

Acontece, no entanto, que, por aqui, muitas das denúncias vão até o aparecimento de outras, e, quando surgem novas, as antigas desaparecem. Sempre foi assim. Sobretudo quando os interesses próprios dos “donos do poder” são colocados em xeque. É aí que a investigação não anda. Fica parada entre as ondas do mistério. Aliás, alguém saberia dizer a origem da dinheirama dos aloprados. Desconfianças não podem ser vistas, nem tidas como certezas. Mesmo que exista todo um caminho palmilhado por evidências, embora não tão claro quanto o que se tinha com relação ao mensalão, cujo ponto de partida fazia parede meia com a porta da sala do presidente da República. Percurso seguido por certo procurador federal, o gaúcho Pestana. Porém, outro procurador – desta feita, o geral – não enxergava por igual lupa, e, então, evitou a inclusão do ex-metalúrgico entre os denunciados, os quais passaram a ser réus pelo STF, mas longe de serem condenados. Ah! Dizem que nem serão. Pois já se passaram seis anos, e o muito que se alcançou foi uma montoeira de papéis, que forma vários volumes. Não sem antes deixarem rastros que, lá adiante, constituirão em brechas jurídicas da absolvição. 

Igual destino terá os aloprados. Afinal, a imensa maioria da população, sequer, se lembra de algum deles. O mesmo se pode dizer com relação aos “vampiros dos medicamentos”, “sanguessugas”, integrantes do Castelo de Areia e os mensaleiros – disfarçados de tucanos e democratas. 
 
Não se fez menção aos recentes cobradores de propina no Ministério dos Transportes, uma vez que estes também cairão no esquecimento. Ainda mais rápido. Tanto que nenhum envolvido está assustado com o barulho da imprensa. Pois, no intervalo de cada ato, sempre se tem uma explicação técnica para justificar a majoração das obras contratadas. Véu capaz de encobrir os envelopes passados de mão em mão, sob a penumbra de cada quarto de hotel, e a esconder os reais tocadores do esquema. Mais eficiente que os dólares carregados na cueca ou em malas pretas. 
 
Tudo conspira favoravelmente. Isso porque surgiu nova denúncia: documentos e imagens revelam que a Petrobrás e a empresa do peemedebista Eunício Oliveira fraudaram licitação de R$ 300 milhões. A oposição ameaça pedir à Polícia Federal e à Procuradoria-Geral da República (PGR) que investiguem o caso. 

A imprensa, agora, ganhou outro foco. O que a faz descuidar do anterior. Deixa apropriada para que a poeira se abaixe, e os republicanos envolvidos sejam esquecidos.
 Quadro que facilita as coisas, inclusive, para o governo. Mas é péssimo para o viver democrático. Pois este viver, ao contrário de outros, não se oxigena com a sujeira jogada para debaixo do tapete, nem se aflora em meio à inexistência da separação entre Estado, mercado e esfera pessoal e de relações de parentesco.

E quando não se consuma tal separação, sempre existirá terreno fértil para que se faça do público uma extensão do privado.       
Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.      
 


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