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Opinião
Segunda - 25 de Julho de 2011 às 08:21
Por: Bruno Peron Loureiro

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A venda está consumada. O Brasil encontra-se na fase posterior de arrebatamento dos recursos materiais e anímicos por oligarcas hereditários, dívidas impagáveis e países esbulhadores.
Paralelamente ao cenário deste "país pacífico" - e por suposto genuflexo - a Síria vivencia a iminência de deposição do estadista Bashar al Assad. Os atentados às embaixadas EUAna e francesa são o estopim de mais um processo de invasão perpetrado por duas potências com assento permanente no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas.

O pretexto desta empreitada é simples: basta que o país alvejado tenha governos que perduram  e que haja a menor oposição para que se conflagre a nova Guerra Santa da democracia. Encobre-se, porém, que o destinatário violou alguma norma de conduta que o mantinha atrelado - provavelmente em desvantagem - ao sistema produtivo internacional.

Sabemos bem quem comanda esta engrenagem, uma vez que o mundo só é mundo enquanto compartilha dos valores das potências dominantes e sobejamente pujantes. A África Setentrional e o Oriente Médio fizeram-no - Arábia Saudita e Israel ainda fazem - com o petróleo e a geopolítica, até certo ponto. A tentativa de derrubada de ditadores é seletiva.

Com esta introdução contextual, argumenta-se que o Brasil está distante de constituir ameaça ao jogo das potências porque sua economia alimenta o sistema financeiro internacional (bancos, capitais evasivos e especulativos), fornece nutrientes para as bocas famintas de além-mar, e mantém seu povo trabalhador na bestialidade e na ignorância de que sua mão-de-obra movimenta toda esta patranha com o mínimo de remuneração pelas horas trabalhadas.

Nalgum momento, mencionei que o Brasil optou pela economia agroexportadora latifundiária, que só baixa os preços internos quando nosso produto não é aceito nalgum outro país por questões de vigilância sanitária.

Noutro alertei que o idioma inglês, neste ritmo, substituirá o português no Brasil ou juntos comporão um híbrido estéril, já que é cacoete da linguagem coloquial.

Desta vez, argumento que o sistema produtivo está presente com naturalidade em quase todos os períodos das vinte e quatro horas do dia.

Trabalha-se arduamente para mover as rodas do sistema e, quando se crê livre dele, a crença não passa de uma ilusão inescusável. Produz-se, distribui-se e consome-se até nas poucas e fugazes horas de espairecimento, como a publicidade na televisão ou as indesejadas chamadas telefônicas que nos oferecem serviços sob ameaça de que "estamos sendo gravados para sua segurança".

A jornalista canadense Naomi Klein, em seu livro "Sem Logo", hostiliza as logomarcas devido à transição de venda de produtos a ideias. Hoje se vendem conceitos, concepções, cosmovisões, que evidentemente se vinculam à venda exponencial de calças, perfumes, sapatos, lanches.

A alma tupinica tem sido entregue à hegemonia praticamente irreversível do setor comercial, a ditadura das empresas medianamente instituídas, entre outras escolhas que fizeram nossos políticos com a anuência de um povo apático.
O exorcismo, nesta etapa do processo, é dispendioso, doloroso e demorado, porqu
anto o país já atingiu a etapa avançada de pós-venda, em que os vendedores insistem na eficácia de seus produtos e na manutenção de modelos de consumo.

O cliente Brasil recebe um tratamento diferenciado.

Um deles é o que fomenta a estranha predileção de termos forâneos em nossas embalagens e painéis publicitários. Usa-se "pizza delivery" em vez de "entrega de pizzas", "hair cutting" em lugar de "corte de cabelos", o termo "performance" substitui "desempenho", e irrompem os treinamentos motivacionais baseados no mais-do-mesmo "coaching". Busca-se, no almoço, o sistema "self-service" em vez de "auto-serviço" ou, mais simples ainda, "comida por quilo".

O processo descrito por Naomi Klein encontra no Brasil seu aluno exemplar.

Daí entendo por que haja tantos trapaceiros neste país: furadores de filas, sonegadores de impostos, industriais de multa, bate-papos rodeados de preconceitos, troca de favores envolvendo funcionários públicos (seus crimes: peculato, concussão, advocacia administrativa).

A visita do EUAno Obama ao Brasil em março de 2011 foi apenas uma expressão de pós-venda da constelação de produtos que orbitam a vida de cada brasileiro.

Tudo vira negócio no país dos negócios. Não tarda para que se condecore o Brasil pelos feitos da economia de mercado, que cria tantos ricos e marginais.


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