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Debate e Apatia
Houve um tempo em que o espaço de debate era bem pequeno e outra época, intermediária, onde esse pequeno espaço tornou-se ainda menor. Bastante diferentes do momento vivido, com a imprensa livre e a opinião pública forte. Esteios também da democracia, a qual necessita igualmente dos blogs, sites e redes sociais. Pois estes, ligados e entrelaçados aos veículos mais antigos – rádio, televisão, revista e jornais -, não necessariamente nessa ordem, alargam sobremaneira o campo das discussões. E isso é extraordinário. Porém, a esgrima política, tão importante, se encontra bastante aquém do necessário.
No país, infelizmente, existe uma porção de gente que se comporta como o Jacobina – personagem do conto de Machado de Assis intitulado “O Espelho” – e outra, não em menor número daquela, prefere discutir pessoas, não as idéias deixadas por elas. E não é preciso muito esforço para se perceber isso. Basta que se dê uma olhada nas opiniões registradas nos blogs, por exemplo. Nestes, as atenções dos leitores, curiosamente, se “predem” as figuras dos autores ou dos entrevistados, quando deveriam se ativer em suas mensagens, enunciados ou opiniões. Mesmo assim, os elogios ou “críticas” – que devem aparecer, evidentemente - quase nunca se referem aos conteúdos ditos, mas sempre as pessoas de quem os dizem, e não como se comportam ao dizê-los. Comentários, portanto, dissociados das teses por elas defendidas. Teses que, sequer, foram aprendidas ou compreendidas. Nesse sentido, o “gostar” ou “não gostar” das entrevistas ou dos escritos, por parte dos leitores, se deve a “simpatia” ou a “antipatia” anteriormente provocada pelo falante ou escritor.
Isso, por sua vez, reforça a suspeita de que a escola mais uma vez falhou. Não apenas porque, há muito, ela deixou de ser o espaço da leitura – através da qual o alunado poderia assimilar, a contento, o papel de leitor-receptor-crítico – mas, sobretudo, por conta disso, ter feito vistas grossas a um processo já bastante adiantado em suas dependências, o de desqualificação do interlocutor.
Processo de desqualificação, aliás, bastante percebido nos “debates político-eleitorais”. Estes, definitivamente, estão mais para “bate-bocas” do que para outra coisa. Razão pela qual o vitorioso de tais “bate-bocas” está longe de ser o mais capaz, habilidoso e comprometido com as causas que se diz defender. “Diz”, desta feita entre aspas, uma vez que não apresentou qualquer fundamentação, nem inovação alguma e, tampouco, uma preocupação com as idéias, projetos, pois tinha uma única tarefa desqualificar seus oponentes.
Infelizmente, parece ser esta a única preocupação de uma parte dos internautas. Desperdiçam, portanto, a grande importância dos sites, blogs, redes sociais e até da imprensa, que também se encontra conectada. Totalizando, desse modo, um espaço privilegiado para a discussão. Principalmente hoje, quando não falta é assunto! Pode-se ir da corrupção à impunidade, da cobrança de propina aos pênaltis mal cobrados da seleção canarinho, do superfaturamento nas obras públicas aos perigos de se viajar por estradas malfeitas, do consumo desenfreado à competência da publicidade, dos direitos às obrigações, e, entre elas, a força da tolerância, da prudência e, mais, do diálogo, que se contrapõe ao monólogo, uma vez que este reforça o autoritarismo, a homofobia e ao preconceito.
Discutir não é fazer inimigos. Mas, sim, encontrar soluções, e, nessa busca cotidiana, o aprimoramento da vida em democracia. Caminho, felizmente, seguido por um número crescente de brasileiros, que vê o atual momento como ideal para participar mais do campo da política – um campo apropriado para a livre manifestação, opiniões e também o das cobranças.
Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.
No país, infelizmente, existe uma porção de gente que se comporta como o Jacobina – personagem do conto de Machado de Assis intitulado “O Espelho” – e outra, não em menor número daquela, prefere discutir pessoas, não as idéias deixadas por elas. E não é preciso muito esforço para se perceber isso. Basta que se dê uma olhada nas opiniões registradas nos blogs, por exemplo. Nestes, as atenções dos leitores, curiosamente, se “predem” as figuras dos autores ou dos entrevistados, quando deveriam se ativer em suas mensagens, enunciados ou opiniões. Mesmo assim, os elogios ou “críticas” – que devem aparecer, evidentemente - quase nunca se referem aos conteúdos ditos, mas sempre as pessoas de quem os dizem, e não como se comportam ao dizê-los. Comentários, portanto, dissociados das teses por elas defendidas. Teses que, sequer, foram aprendidas ou compreendidas. Nesse sentido, o “gostar” ou “não gostar” das entrevistas ou dos escritos, por parte dos leitores, se deve a “simpatia” ou a “antipatia” anteriormente provocada pelo falante ou escritor.
Isso, por sua vez, reforça a suspeita de que a escola mais uma vez falhou. Não apenas porque, há muito, ela deixou de ser o espaço da leitura – através da qual o alunado poderia assimilar, a contento, o papel de leitor-receptor-crítico – mas, sobretudo, por conta disso, ter feito vistas grossas a um processo já bastante adiantado em suas dependências, o de desqualificação do interlocutor.
Processo de desqualificação, aliás, bastante percebido nos “debates político-eleitorais”. Estes, definitivamente, estão mais para “bate-bocas” do que para outra coisa. Razão pela qual o vitorioso de tais “bate-bocas” está longe de ser o mais capaz, habilidoso e comprometido com as causas que se diz defender. “Diz”, desta feita entre aspas, uma vez que não apresentou qualquer fundamentação, nem inovação alguma e, tampouco, uma preocupação com as idéias, projetos, pois tinha uma única tarefa desqualificar seus oponentes.
Infelizmente, parece ser esta a única preocupação de uma parte dos internautas. Desperdiçam, portanto, a grande importância dos sites, blogs, redes sociais e até da imprensa, que também se encontra conectada. Totalizando, desse modo, um espaço privilegiado para a discussão. Principalmente hoje, quando não falta é assunto! Pode-se ir da corrupção à impunidade, da cobrança de propina aos pênaltis mal cobrados da seleção canarinho, do superfaturamento nas obras públicas aos perigos de se viajar por estradas malfeitas, do consumo desenfreado à competência da publicidade, dos direitos às obrigações, e, entre elas, a força da tolerância, da prudência e, mais, do diálogo, que se contrapõe ao monólogo, uma vez que este reforça o autoritarismo, a homofobia e ao preconceito.
Discutir não é fazer inimigos. Mas, sim, encontrar soluções, e, nessa busca cotidiana, o aprimoramento da vida em democracia. Caminho, felizmente, seguido por um número crescente de brasileiros, que vê o atual momento como ideal para participar mais do campo da política – um campo apropriado para a livre manifestação, opiniões e também o das cobranças.
Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.
URL Fonte: https://arenapolisnews.com.br/artigo/453/visualizar/
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