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Opinião
Sexta - 05 de Agosto de 2011 às 16:28
Por: Enildes Corrêa

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Uma, entre tantas agradáveis lembranças que guardo da Índia, é quando eu vestia saree - roupa tradicional feminina indiana com 5,5 a 6 metros de tecido. Os tecidos indianos são famosos pela beleza, e encantaram-me desde o primeiro olhar. Entrar nas lojas de tecidos proporcionava-me um momento único! Ficava simplesmente embevecida com a riqueza da criatividade da mesclagem de cores e desenhos das tecelagens. Há tecidos tão trabalhados, que se tornam verdadeiras obras de arte.  
 
As cerimônias de casamento também são excelentes oportunidades para testemunharmos cenas que parecem sair diretamente do conto das mil e uma noites.  As roupas exóticas e belíssimas, os ornamentos, a decoração do ambiente, entre outras coisas, levavam-me a quase não acreditar no que os meus olhos viam. 
 
Inundada por aquele panorama de cores e brilho, decisivamente, deixei de lado a cor preta do meu vestuário.  Não vi mais nenhum “glamour” no famoso vestido preto básico, super valorizado na moda ocidental. Espontaneamente, desconectei-me dessa preferência.
 
Na Índia, há alguns costumes que não convém ao visitante infringi-los, por exemplo, a mulher usar roupas curtas, justas ou decotadas, pois poderá ser muito mal entendida. Por outro lado, o costume local oferece, à ocidental, a oportunidade de usar um saree com os lindos adereços: colares, pulseiras, brincos (como são maravilhosos!), tornozeleiras e o bindi entre as sobrancelhas. É uma experiência que vale muito a pena! O traje e os acessórios compõem um estilo tão diferente do que usamos no Ocidente, que suscita-nos novas sensações e até mesmo, percepções diferenciadas, revelando, de surpresa, um ângulo nosso inusitado.
 
E o saree parece ser capaz de revelar o ângulo mais belo da mulher. Confesso que nunca me senti tão bonita quanto na Índia, vestida com o traje nacional das mulheres, que ressalta a singularidade da expressão feminina. Definitivamente, saree é um poema no corpo. Ao andar pelas ruas movimentadas de Poona, trajando saree, sentia meu corpo traduzir poesia em cada passo, envolta naqueles tecidos macios e esvoaçantes. E festivos comentários do pessoal do bairro onde eu morava não faltavam. Então, usar saree tornava-se uma celebração! Parecia dia de festa, e toda aquela situação fazia-me rir à toa... Um contentamento que vinha de dentro para fora. A leveza e a suavidade da seda, bem como a alegria impressa na cor, pareciam impregnar-se em mim naqueles momentos, como uma magia alcançando as camadas invisíveis do ser.  
 
Na Índia, não impera a cor preta nas vestimentas. Todas as cores da natureza têm seu espaço assegurado e valorizado na moda indiana: o azul do céu, “das vestes dos anjos”; o verde dos mares e das florestas; o alaranjado e o amarelo do sol, das mangas maduras; o rosa das flores dos ipês; o branco do algodão, da neve, das cachoeiras; o vermelho do fogo, das rosas; o lilás dos campos de lavanda; o dourado do ouro; o prateado da lua...
 
No Ocidente, por outro lado, ultimamente há um predomínio do uso da cor preta nas mais diversas situações. Cor que ainda é associada ao luto. Mesmo a moda infantil está sob a influência desta tendência. Até os uniformes adotados por inúmeras organizações são inteiramente pretos, em sua maioria, inclusive em Cuiabá, apesar das altas temperaturas desta terra. Incluem-se neste caso, lojas de departamento, escritórios, repartições públicas, institutos de beleza, restaurantes etc. Fico a imaginar como se sentem as pessoas que usam roupas pretas durante, praticamente, os sete dias da semana. E o mais agravante, nem sempre por livre escolha, mas por obrigatoriedade de um uniforme imposto pela organização onde ganham seu sustento.
 
Que saudade das cores lindas e vibrantes que vemos na Índia! Mesmo nos canteiros de obras, lugar onde predomina o cinza do cimento, do concreto e a frieza do ferro, deparamo-nos com operárias da construção adornadas pelas roupas e enfeites coloridos e brilhantes, como que em oposição à dureza daquele trabalho. E permanecem conectadas com o dom divino, dado por nascimento a toda mulher: o de revelar graciosidade na sua expressão.
 
Como seria bom se nós, ocidentais, déssemos mais importância ao estudo e à compreensão da psicologia das cores. Quem sabe, nossos olhos encontrariam nas vestes das pessoas muito mais a vivacidade e as nuances das colorações, que fazem tão bem ao sentido da visão e nos reportam à eterna dança da harmonia das cores do Universo.
   
Após inteirar-me de ensinamentos originais da cultura indiana, pude entender que a explosão de cores e brilho que vemos lá nas celebrações religiosas, nos casamentos, na manifestação artística de vários segmentos, remete-nos à expressão da celebração interna. Como disse-me Kiran Kanakia:  “Nós temos de  viver de  maneira muito celebrativa. Esse é o compromisso de todos nós com a vida. E isso é o que nós temos esquecido”.
 
Namastê!
 
BENEDITA ENILDES DE CAMPOS CORRÊA é Administradora e Prof. de Yoga. Ministra seminários vivenciais a organizações governamentais e privadas na área de Qualidade de Vida e Humanização da Convivência. Autora de Vida em Palavras – coletânea de crônicas. E-mail:  omsaraas@terra.com.br
 


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