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Opinião
Domingo - 14 de Agosto de 2011 às 09:08
Por: Eduardo Póvoas

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Há dois mil, seiscentos e quarenta e cinco dias não pronuncio mais essa mágica palavra. Impedido que fui por Deus, a pronuncio quando sozinho me encontro embaixo de minhas seis jabuticabeiras tentando ser interpretado por elas nos meus momentos de saudades infindáveis.

Procuro nesses dois mil seiscentos e quarenta e cinco dias alguma outra que possa me confortar quando sinto vontade de pronunciá-la. Não, não estou sendo muito exigente, talvez se achasse uma que vez ou outra, quando eu a pronunciasse, pudesse me confortar, mesmo tendo certeza de que através dela meus lamentos e minhas angústias continuariam bem longe de quem queria eu que as escutasse, provavelmente seriam mais confortáveis os batimentos do meu coração.

Há nessas três letras, divinamente entregues a nós pelo Grande Arquiteto do Universo, a magia ímpar do amor, da solidariedade, do conforto, do amparo, da parceria, e acima de tudo do relacionamento fraternal entre dois seres humanos.

Pronunciamos a palavra pai de maneira rápida e quase despercebida. Ao pronunciarmos essa palavra, pouco ou quase nada percebemos a importância e a riqueza dela.

Não sei como classificar essas três letras mágicas.

Tento, e por diversas vezes, entender como Deus foi sábio ao juntar duas vogais e uma consoante e nos mostrar que através delas, ou melhor, que dentro delas vive uma chama que, para quem tem sentimento, nunca se apaga.

Se você que perde seu precioso tempo em ler este artigo, e que ainda pode pronunciar essa palavra, vá até o seu pai, beije-o, acaricie-o, não tenha vergonha de lhe pedir perdão, peça, pois tantos são nossos erros e tanta é a vontade dele de nos perdoar, não espere pelo dia dos pais, pois deles são os trezentos e sessenta e cinco dias do ano.

Ah, se eu estivesse no seu lugar! Ah se Deus me desse a graça de hoje ter o meu, a meu lado!

Não importa, velho, amanhã será o dia de número dois mil, seiscentos e quarenta e seis de sua ausência, amanhã não estaremos fisicamente juntos, amanhã talvez seus afazeres nesse outro plano impeçam que possa me dar um pouco mais de atenção.

Nossa distância fica cada dia mais sem-fim. Vejo-te misturado numa penumbra que insiste em dificultar que eu veja os traços angelicais do seu rosto e sua voz compassada e meiga.

Não haverá distância ou penumbra que possa apagar as lembranças dos nossos dias juntos. Não haverá absolutamente nada que possa minimizar o meu amor e o meu respeito por você.

Haverá, sim, sempre que percebo que essa penumbra tente nos afastar, um aumento considerável do amor que sinto por ti.

Seu dia são os trezentos e sessenta e cinco do ano. Só os trocaria por um minuto com você e poder usar mais uma vez a palavra PAI!

Com a certeza de que um dia qualquer estaremos juntos, e enquanto ele não chega, continuo debaixo das minhas jabuticabeiras, e com muita esperança, travando meu monólogo na certeza de que estás ouvindo.

Um beijo de seu filho que sempre te venerou!

EDUARDO PÓVOAS é cidadão cuiabano.
povoas@terra.com.br

 



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