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Fio do Novelo de Lã
Vive-se, hoje em dia, em meio às crises. A econômica e a política. As mesmas – não por iguais causas vividas pelos EUA e a Inglaterra – que deixam em xeque-mate a estabilidade brasileira. Por aqui, ao contrário do que se vê em Londres, por exemplo, são os políticos da ala situacionista que se mostram insatisfeitos e, então, boicotam as ações do governo no Congresso Nacional. Situação no mínimo curiosa – para não dizer outra coisa. Até porque, agora, republicanos, progressistas, socialistas, petebistas, pedetistas e peemedebistas se aliam para cobrar maior rapidez na liberação das emendas parlamentares.
Isso se traduz em instrumento de chantagem, contra uma presidente inexperiente e alheia ao trato com questões políticas, além de se dar em razão das eleições do ano que vem. Afinal, a entrada de qualquer benfeitoria em um dado município pode favorecer o prefeito, que gostaria de se reeleger, ou ao seu candidato a sucessão. Tanto este quanto aquele, somado a um grupo de postulantes às cadeiras da Câmara Municipal, se constituirá em forte cabo eleitoral, em 2014, do parlamentar-autor da dita emenda.
Trata-se, portanto, de um pleito meramente eleitoreiro. Movido por interesses particulares. Nada tem a ver com as vontades da coletividade. Ainda que o dinheiro liberado dê para realizar obras que atendam uma ou outra necessidade da população. Pois, sobre a mesa, se sobressai a vontade individual, traduzida em estratégia político-eleitoral, pela manutenção na cadeira congressista.
Fotografia negativa. Sobretudo por quem entende que a tarefa do senador e do deputado federal é bem outro. Vai além do mero indicador e defensor de emendas no orçamento da União. Aliás, tal condição já deveria, há muito, ser expurgada, uma vez que é a partir e/ou na liberação das ditas emendas que se encontra o vírus da corrupção – do desvio de dinheiro público, consolidado na cobrança de propina ou de dizimo eleitoral. Daí o superfaturamento de obras malfeitas, em igual proporção ao crescimento de patrimônio particular.
Tem-se, então, parte ou uma das pontas do iceberg, cuja presença agride de morte o Estado Democrático e de Direito. O que realça o lado mais sombrio da vida cotidiana nacional, norteada pelo patrimonialismo e cartorialismo. Esteios perversos. A ponto de fazer do público a extensão do privado. Sem que haja punição alguma. É por conta disso que os “ladrões de galinhas” são jogados nas prisões, enquanto o “colarinho branco” caminha livremente pelos corredores sociais – igualmente desenvoltura com que perambula pelas salas palacianas, fazendo lobby e facilitando a vida do corruptor. Este, gozado, jamais é identificado. Embora se tenha as denuncias de corrupção, e até a grana do negócio.
Quadro que poderia ser o foco das discussões, além de investigações. Aliás, o momento de “boicotes” dos integrantes da base aliada é altamente favorável para o dito debate. Reforçado que é pelo clima de “reforma política”, bem como pela situação de desconforto da própria presidente – refém da própria base que deveria lhe oferecer tão somente guarida. Guarida que tem como contrapartida a cobrança do fazer “vistas grossas” aos desvios ou comportamentos nada republicanos nos ministérios entregues de porteira fechadas aos partidos aliados. Afinal, nos postos chaves desses ministérios se encontram sempre “gente” da cúpula partidária, ou do coronel político.
Eis, portanto, o início do fio do novelo de lã. Fio que ao ser puxado deixa à mostra todo o desenho da crise política, vivida no país.
Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.
Isso se traduz em instrumento de chantagem, contra uma presidente inexperiente e alheia ao trato com questões políticas, além de se dar em razão das eleições do ano que vem. Afinal, a entrada de qualquer benfeitoria em um dado município pode favorecer o prefeito, que gostaria de se reeleger, ou ao seu candidato a sucessão. Tanto este quanto aquele, somado a um grupo de postulantes às cadeiras da Câmara Municipal, se constituirá em forte cabo eleitoral, em 2014, do parlamentar-autor da dita emenda.
Trata-se, portanto, de um pleito meramente eleitoreiro. Movido por interesses particulares. Nada tem a ver com as vontades da coletividade. Ainda que o dinheiro liberado dê para realizar obras que atendam uma ou outra necessidade da população. Pois, sobre a mesa, se sobressai a vontade individual, traduzida em estratégia político-eleitoral, pela manutenção na cadeira congressista.
Fotografia negativa. Sobretudo por quem entende que a tarefa do senador e do deputado federal é bem outro. Vai além do mero indicador e defensor de emendas no orçamento da União. Aliás, tal condição já deveria, há muito, ser expurgada, uma vez que é a partir e/ou na liberação das ditas emendas que se encontra o vírus da corrupção – do desvio de dinheiro público, consolidado na cobrança de propina ou de dizimo eleitoral. Daí o superfaturamento de obras malfeitas, em igual proporção ao crescimento de patrimônio particular.
Tem-se, então, parte ou uma das pontas do iceberg, cuja presença agride de morte o Estado Democrático e de Direito. O que realça o lado mais sombrio da vida cotidiana nacional, norteada pelo patrimonialismo e cartorialismo. Esteios perversos. A ponto de fazer do público a extensão do privado. Sem que haja punição alguma. É por conta disso que os “ladrões de galinhas” são jogados nas prisões, enquanto o “colarinho branco” caminha livremente pelos corredores sociais – igualmente desenvoltura com que perambula pelas salas palacianas, fazendo lobby e facilitando a vida do corruptor. Este, gozado, jamais é identificado. Embora se tenha as denuncias de corrupção, e até a grana do negócio.
Quadro que poderia ser o foco das discussões, além de investigações. Aliás, o momento de “boicotes” dos integrantes da base aliada é altamente favorável para o dito debate. Reforçado que é pelo clima de “reforma política”, bem como pela situação de desconforto da própria presidente – refém da própria base que deveria lhe oferecer tão somente guarida. Guarida que tem como contrapartida a cobrança do fazer “vistas grossas” aos desvios ou comportamentos nada republicanos nos ministérios entregues de porteira fechadas aos partidos aliados. Afinal, nos postos chaves desses ministérios se encontram sempre “gente” da cúpula partidária, ou do coronel político.
Eis, portanto, o início do fio do novelo de lã. Fio que ao ser puxado deixa à mostra todo o desenho da crise política, vivida no país.
Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.
URL Fonte: https://arenapolisnews.com.br/artigo/429/visualizar/
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