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Centro-Oeste, Mato Grosso (2)
No artigo anterior tracei um perfil amplo da região Centro-Oeste, numa visão geral partindo da construção de Brasília em 1960 que abria ao Brasil uma região até então absolutamente fora dos interesses nacionais. Na verdade, naquela época o centro do Brasil era considerado um apêndice sem importância dentro de um país que não se conhecia além do litoral.
Mas considero que não se pode compreender o Centro-Oeste atual e, tampouco o Brasil de agora, sem um amplo conhecimento do projeto filosófico de Brasília. Aliás, foram dois momentos: o da construção de Brasília na década de 50, e a ação dos militares a partir de 1971 com a decisão de ocupar o interior do Brasil partindo de Brasília.
O presidente JK tinha a clara noção de que o Brasil precisava ocupar o seu interior. De Brasília partiram algumas rodovias essenciais: a Belém-Brasília, a Brasília-Belo Horizonte, a Brasília-Uberlândia, a Brasília-Cuiabá( BR-070), e a Brasilia-Salvador. Todas tinham ou teriam ramificações que costurariam a integração. Os militares, apesar das divergências ideológicas com JK, tiveram a lucidez de aproveitar bem esse planejamento logístico-nacionalista. Aliás, todas as rodovias iniciadas pelo “zero” nascem de Brasília, como um indicador de princípio da integração, como a BR-070, por exemplo.
Porém, dentro de Brasília, gostaria de destacar um ponto da maior grandeza estratégica em tudo isso: a Universidade de Brasília. Ela foi concebida pelo antropólogo mineiro Darcy Ribeiro, um dos mais brilhantes e arrojados intelectuais da época. A visão da UnB seria a de formar técnicos destinados à ocupação do Centro-Oeste e da Amazônia a partir de Brasília, com visão humanista. A tese era a de que para lidar com uma cultura frágil como era aquela interiorana e que precisava ser preservada como herança cultural brasileira, a UnB concebeu que todos os cursos, fossem de engenharia, medicina, ou de administração, para não falar nos demais, obrigatoriamente teriam que oferecer os dois primeiros anos todos em comum, com alunos cursando disciplinas de história, de sociologia, de direito, de língua portuguesa, de filosofia e economia, de modo a terem uma visão mais larga da realidade brasileira. Tive o privilégio de cursar Jornalismo na UnB entre os anos de 1965 e 1968, vivendo esse clima de visão ampliada sob a filosofia de integrar o Brasil interiorano também pelo caminho do conhecimento. Hoje, passados tantos anos, confesso que pauto minha vida profissional por aquela filosofia integrativa.
Faço aqui duas anotações. A primeira. Os filhos das famílias mato-grossenses que antes estudavam no Rio de Janeiro, mudaram-se para a UnB. Cito até dois exemplos: Fernando Robério de Borges Garcia e José Luis de Borges Garcia (filhos do ex-governador Garcia Neto), Ivan e Eduardo Delamônica Freire, Frederico Muller, entre tantos de famílias ilustres e de famílias simples. Outra anotação foi a imediata influência de Brasília na arquitetura cuiabana. O complexo do Palácio Paiaguás é típica arquitetura de Brasília, com vãos largos, áreas envidraçadas concreto aparente, etc.
O desenvolvimento posterior de Mato Grosso e do Centro-Oeste foi em grande parte concebido por muitos dos técnicos egressos da UnB em anos sucessivos, como até hoje.
A partir de Brasília o Centro-Oeste e a Amazônica começariam a ter uma identidade menos segregada do que tinham antes em relação ao Brasil. Mas daí até chegar a 2011 ainda tem muita estrada. Tema dos próximos artigos. Continuo contando com a sua paciência.
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso
onofreribeiro@terra.com.br
Mas considero que não se pode compreender o Centro-Oeste atual e, tampouco o Brasil de agora, sem um amplo conhecimento do projeto filosófico de Brasília. Aliás, foram dois momentos: o da construção de Brasília na década de 50, e a ação dos militares a partir de 1971 com a decisão de ocupar o interior do Brasil partindo de Brasília.
O presidente JK tinha a clara noção de que o Brasil precisava ocupar o seu interior. De Brasília partiram algumas rodovias essenciais: a Belém-Brasília, a Brasília-Belo Horizonte, a Brasília-Uberlândia, a Brasília-Cuiabá( BR-070), e a Brasilia-Salvador. Todas tinham ou teriam ramificações que costurariam a integração. Os militares, apesar das divergências ideológicas com JK, tiveram a lucidez de aproveitar bem esse planejamento logístico-nacionalista. Aliás, todas as rodovias iniciadas pelo “zero” nascem de Brasília, como um indicador de princípio da integração, como a BR-070, por exemplo.
Porém, dentro de Brasília, gostaria de destacar um ponto da maior grandeza estratégica em tudo isso: a Universidade de Brasília. Ela foi concebida pelo antropólogo mineiro Darcy Ribeiro, um dos mais brilhantes e arrojados intelectuais da época. A visão da UnB seria a de formar técnicos destinados à ocupação do Centro-Oeste e da Amazônia a partir de Brasília, com visão humanista. A tese era a de que para lidar com uma cultura frágil como era aquela interiorana e que precisava ser preservada como herança cultural brasileira, a UnB concebeu que todos os cursos, fossem de engenharia, medicina, ou de administração, para não falar nos demais, obrigatoriamente teriam que oferecer os dois primeiros anos todos em comum, com alunos cursando disciplinas de história, de sociologia, de direito, de língua portuguesa, de filosofia e economia, de modo a terem uma visão mais larga da realidade brasileira. Tive o privilégio de cursar Jornalismo na UnB entre os anos de 1965 e 1968, vivendo esse clima de visão ampliada sob a filosofia de integrar o Brasil interiorano também pelo caminho do conhecimento. Hoje, passados tantos anos, confesso que pauto minha vida profissional por aquela filosofia integrativa.
Faço aqui duas anotações. A primeira. Os filhos das famílias mato-grossenses que antes estudavam no Rio de Janeiro, mudaram-se para a UnB. Cito até dois exemplos: Fernando Robério de Borges Garcia e José Luis de Borges Garcia (filhos do ex-governador Garcia Neto), Ivan e Eduardo Delamônica Freire, Frederico Muller, entre tantos de famílias ilustres e de famílias simples. Outra anotação foi a imediata influência de Brasília na arquitetura cuiabana. O complexo do Palácio Paiaguás é típica arquitetura de Brasília, com vãos largos, áreas envidraçadas concreto aparente, etc.
O desenvolvimento posterior de Mato Grosso e do Centro-Oeste foi em grande parte concebido por muitos dos técnicos egressos da UnB em anos sucessivos, como até hoje.
A partir de Brasília o Centro-Oeste e a Amazônica começariam a ter uma identidade menos segregada do que tinham antes em relação ao Brasil. Mas daí até chegar a 2011 ainda tem muita estrada. Tema dos próximos artigos. Continuo contando com a sua paciência.
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso
onofreribeiro@terra.com.br
URL Fonte: https://arenapolisnews.com.br/artigo/427/visualizar/
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