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Opinião
Quinta - 18 de Agosto de 2011 às 11:04
Por: Onofre Ribeiro

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Quando governador de Mato Grosso, entre 1995-1998-2002, Dante e eu tivemos muitos e prolongados contatos. Em 1996, almoçamos na sua residência e fumamos o cachimbo da paz, encerrando uma longa pendenga anterior de desapreços políticos mútuos. Lá, ele falou, falou, falou e falou sobre tudo.
           
Cheguei em casa e contei à minha mulher, Carmem, que não entendi o longo papo do governador, até mesmo porque a gente tinha acabado de se acertar civilizadamente. Ela me disse: isso é sinal de solidão. Duvidei. Como um governador prestigiado como ele poderia ser solitário? Dias depois, escrevi um artigo no jornal A Gazeta, criticando a falta de planejamento estratégico do governo sobre problemas graves como energia elétrica, na época um caos.
           
Ele telefonou-me e convidou para um café da manhã na residência às 7 horas. Foi outra longa conversa, a segunda de muitas e muitas. Bom, contado, isso, explico o porquê. Dante era assoberbado por imensas demandas, próprias do governador. Ele adquiriu o hábito de ouvir algumas pessoas antes de decidir-se. Por bastante tempo tive esse privilégio. Ele ouvia quantos achava necessário e depois decidia.
           
Aí é que morava o mistério. Sua decisão posterior aparentemente não tinha nada a ver com as conversas. É que ele ouvia, ouvia, ouvia, a todos e fazia um juízo pessoal muito particularizado, somando suas informações técnicas e pessoais com as avaliações de quem ele ouvia.
           
Numa viagem internacional, ele convidou para tomar vinho os amigos que o acompanhavam a Chicago. Lá eu perguntei-lhe, particularmente, o mistério da sua “escutatória”. Ele respondeu que é muito difícil o papel do governador, porque quem se aproxima tem algum tipo de demanda ou de interesses. Decidir à primeira informação pode gerar erros graves. Então, ele disse que ouvia todo mundo necessário, passava na peneira tudo que ouviu e formava um conceito pela média das informações. Depois juntava as suas informações e mais a própria avaliação. O resultado, disse ele, “era o que sobrava desse garimpagem”. E mudou de assunto.
           
Hoje passados cinco anos de sua morte, lembro-me daquelas conversas, e sinto falta da “escutatória” de Dante de Oliveira. Tinha paciência pra ouvir e rapidez pra cortar a conversa quando já não lhe interessava mais, ou a conversa divagava. Aprendi a dizer-lhe as coisas num parágrafo só.  Funcionava. Muitas vezes ouvia-o repetir trechos das nossas conversas ou adotar algumas coisas para as quais pude contribuir.
           
Isso de saber ouvir e de usar bem o que ouve, me ficou muito marcado da personalidade de Dante.  Porém, mais do que isso, foi-me extremamente útil ter aprendido com ele a sintetizar conversas num parágrafo só, principalmente quando o interlocutor é ansioso, ou está garimpando informações também em outras fontes.
 
Onofre Ribeiro é jornalista em Cuiabá
onofreribeiro@terra.com.br
 


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