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A mídia (pessimista) e o humanismo
Entrei numa redação de jornal em Brasília, na manhã do dia 3 de fevereiro de 1973, no nascente “Jornal de Brasília”. De lá para cá, nunca mais me desliguei do jornalismo. Lembro o fato para tentar estabelecer as sucessivas fases que a mídia brasileira viveu ao longo desses 38 anos até chegar ao momento atual, que é o foco deste artigo.
Naquele momento vivia-se o período da ditadura militar e as liberdades eram bem restritas. Mas a mídia, que era muito menos diversificada do que agora, tinha um engajamento político-social muito forte. Mesmo tendo que veicular as propagandas melosas do “sucesso governamental” da época, e conviver com a censura, a mídia era muito crítica e aprendeu a usar uma linguagem sutil que aos poucos a sociedade foi compreendendo, tanto no impresso, quanto no rádio e na televisão.
Uma das coisas mais fantásticas de que me lembro, era a elevação da sociedade pela busca de fatos e de pessoas que realizavam coisas edificantes, pensavam coisas edificantes e ousavam quebrar a imobilidade política da sociedade. Foi de uma importância fantástica aquilo, de celebrar a Sociedade e não o Estado. Passada a fase militar, o Brasil tinha uma mídia crítica e sintonizada com a sociedade brasileira.
Veio a fase do pós-ditadura e a imprensa descambou para o denuncismo, de onde ainda não saiu. Não critico o denuncismo. É necessário, mas sozinho não constrói. Denúncia precisa ter o contrapeso da construção social, como teve lá atrás. O regime não é mais ditatorial, mas a desordem política é estupenda e a corrupção tornou-se violentíssima. Os partidos políticos perderam-se nos oceanos da criminalidade e a sociedade ficou órfã.
Contudo, a mesma sociedade está anos-luz à frente do Estado. Sabe o que quer, busca, trabalha, estuda, constrói, compra, reage, produz, fala, vai atrás do seus sonhos, contrariando um Estado corrompido e afogado inversamente em interesses não-republicanos.
A mídia, por sua vez, afogada no denuncismo, esqueceu-se de perseguir e apoiar essa sociedade dinâmica e crítica, que caminha numa direção irreversível do progresso social e econômico. Lá atrás, deu certo usar a sociedade como pano de fundo pra contrapor ao regime militar. Hoje a sociedade deveria contrapor-se ao apodrecido sistema político público. Pessoas, empresas e instituições avançam, maravilhosamente na direção do futuro luminoso, mas as denúncias travestem jornalistas em investigadores e escrivães policiais.
A sociedade é cada dia mais humanista,mas raramente se vê uma reportagem positiva trazendo a público o seu lado construtivo. Alienou-se e exacerbou em críticas. No geral as manchetes da mídia são absolutamente negativas embora se dirijam a uma sociedade absolutamente positiva e humanista. Falta um primeiro passo de boa vontade da mídia e das faculdades de jornalismo ensinarem que a sociedade sempre mudou-se e mudou o mundo pra melhor. Agora não seria diferente. Mas seria mais fácil se a mídia, com seu imenso poder, a apoiasse.
Onofre Ribeiro é jornalista em Cuiabá
onofreribeiro@terra.com.br
Naquele momento vivia-se o período da ditadura militar e as liberdades eram bem restritas. Mas a mídia, que era muito menos diversificada do que agora, tinha um engajamento político-social muito forte. Mesmo tendo que veicular as propagandas melosas do “sucesso governamental” da época, e conviver com a censura, a mídia era muito crítica e aprendeu a usar uma linguagem sutil que aos poucos a sociedade foi compreendendo, tanto no impresso, quanto no rádio e na televisão.
Uma das coisas mais fantásticas de que me lembro, era a elevação da sociedade pela busca de fatos e de pessoas que realizavam coisas edificantes, pensavam coisas edificantes e ousavam quebrar a imobilidade política da sociedade. Foi de uma importância fantástica aquilo, de celebrar a Sociedade e não o Estado. Passada a fase militar, o Brasil tinha uma mídia crítica e sintonizada com a sociedade brasileira.
Veio a fase do pós-ditadura e a imprensa descambou para o denuncismo, de onde ainda não saiu. Não critico o denuncismo. É necessário, mas sozinho não constrói. Denúncia precisa ter o contrapeso da construção social, como teve lá atrás. O regime não é mais ditatorial, mas a desordem política é estupenda e a corrupção tornou-se violentíssima. Os partidos políticos perderam-se nos oceanos da criminalidade e a sociedade ficou órfã.
Contudo, a mesma sociedade está anos-luz à frente do Estado. Sabe o que quer, busca, trabalha, estuda, constrói, compra, reage, produz, fala, vai atrás do seus sonhos, contrariando um Estado corrompido e afogado inversamente em interesses não-republicanos.
A mídia, por sua vez, afogada no denuncismo, esqueceu-se de perseguir e apoiar essa sociedade dinâmica e crítica, que caminha numa direção irreversível do progresso social e econômico. Lá atrás, deu certo usar a sociedade como pano de fundo pra contrapor ao regime militar. Hoje a sociedade deveria contrapor-se ao apodrecido sistema político público. Pessoas, empresas e instituições avançam, maravilhosamente na direção do futuro luminoso, mas as denúncias travestem jornalistas em investigadores e escrivães policiais.
A sociedade é cada dia mais humanista,mas raramente se vê uma reportagem positiva trazendo a público o seu lado construtivo. Alienou-se e exacerbou em críticas. No geral as manchetes da mídia são absolutamente negativas embora se dirijam a uma sociedade absolutamente positiva e humanista. Falta um primeiro passo de boa vontade da mídia e das faculdades de jornalismo ensinarem que a sociedade sempre mudou-se e mudou o mundo pra melhor. Agora não seria diferente. Mas seria mais fácil se a mídia, com seu imenso poder, a apoiasse.
Onofre Ribeiro é jornalista em Cuiabá
onofreribeiro@terra.com.br
URL Fonte: https://arenapolisnews.com.br/artigo/419/visualizar/
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