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Opinião
Quinta - 25 de Agosto de 2011 às 08:00
Por: Lourembergue Alves

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Um escrito torna-se e continua clássico em razão de sua atualidade e importância para o momento em que se é lido. Eis porque ele se revela sempre novo e inesperado. Aliás, é isso que desperta “prévio fervor” no leitor. Este, mesmo após a realização da leitura, mantém-se leal aos seus ensinamentos. Pois, o clássico ensina algo universal e, também, traz uma pitada de vivência particular.

Daí a relevância, por exemplo, da “Carta Sétima”. Nesta, Platão confessava ter, na juventude e um pouco mais tarde, projeto de “militar na política”. Isso porque imaginava que os governantes “restabeleceriam os caminhos da injustiça para os da justiça”. Mas, ao se assenhorear das ações realizadas, o filósofo percebeu do seu engano, uma vez que os políticos do seu período o faziam sentir mais e mais “saudades da antiga ordem”. 

 Sentimento bastante presente hoje, no Brasil. Tanto que centenas de jovens brasileiros, aos quais – impulsionados por dezenas de gente com mais idade – se deixam levar pela onda de que no regime burocrático-militar inexistia a corrupção. Afinal, havia punição para quem, de fato, “saia da linha”. Particularmente o de “colarinho branco”. 

 Ledo engano. Pois, o sistema adotado em 1964 “pegava forte” com quem lhe “trazia aborrecimentos” ou ousava lhe fazer oposição. Prisão, tortura, silêncio e o degredo eram as penalidades costumeiramente aplicadas. Não para quem se encontrava a favor do regime. Mesmo que o dito cujo viesse a desviar o dinheiro público. Favorecido pela censura, que barrava qualquer denúncia pelos meios de comunicação, enquanto a Polícia Federal se encarregava de outros assuntos – os mesmos de quando foi criada em 1944, como DFSP (Departamento Federal de Segurança Pública), que se intensificaram a partir de 1967, no exato instante que passava ser chamada de Departamento de Polícia Federal.      

Assim, a corrupção tinha o caminho livre. Ela se fez presente em quase todos os ministérios, alastrou por administrações estaduais e municipais, e, de “lambuja”, deixou seus rastros no Legislativo e no Judiciário. Muitos dos atuais “colarinhos brancos” têm suas raízes fincadas naquela época.
 Uma época que jamais deveria ser reeditada. Tampouco reivindicada. Pior ainda como uma época de “anos dourados”. Pois foram, na verdade, “doídos” para quem os viveram. A propósito, o escritor e médico Moacyr Scliar viu-se impedido de realizar o concurso público para o qual se achava legalmente habilitado e inscrito, e destituído do direito de saber o porquê fora convidado a se retirar do local da realização das provas.

 Situação bastante diferente da que se vive atualmente. A vida democrática cada dia se fortalece. Embora existam alguns gargalhos, entre os quais a corrupção - tida por Platão como fenômeno desintegrador. Pois corroia Atenas. Razão pela qual o filósofo se desiludiu com a vida pública, visto que os homens públicos são dominados por interesses particulares.
 Retrato que realça o Brasil do presente. Por aqui, a governabilidade passa pelo “dando que se recebe”, e os governos são loteados entre apadrinhados e gente dos caciques, no instante em que as denúncias de cobrança de propina lotam os espaços dos meios de comunicação. Uma vez mais se faz necessário reler velhos clássicos, com o fim de subtrair deles, lições imprescindíveis para o fortalecimento da vida pública e dos traços de cidadão.  

Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br
 


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