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Opinião
Quinta - 25 de Agosto de 2011 às 08:05
Por: Kleber Lima

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Fui a Rondonópolis na última sexta-feira acompanhar a edição do Governo Itinerante. Estava sem-graceira danada. Nem de longe a Rondonópolis que vi na semana passada, governada por um ex-líder popular, lembra a Rondonópolis de até a década de 90, politizada, com gente mobilizada para qualquer assunto, vibrando, protestando, opinando. Qual nada, a Rondonópolis do Zé Carlos do Pátio é uma cidade cosmopolita, é verdade, cheia de edifícios, com ruas movimentadas por automóveis barulhentos, mas, antagonicamente, sem vida, apática.

Na prefeitura, sede do governo itinerante, tinha até vaga de estacionamento sobrando. Ninguém, fora os habitués de prefeitura, foi ao Paço Municipal para ver o governador e os inúmeros secretários que tornaram a cidade capital do Estado por um dia. Nem para pedir favores. Para a cidade era um dia qualquer, e certamente as pessoas estavam mais empenhadas em discutir os programas do fim de semana do que saber o que o governador e seu staff foram fazer em sua aldeia.
Em outras cidades nas quais já tive a oportunidade de acompanhar o Governo Itinerante, como Cáceres e Pontes e Lacerda, o evento foi um acontecimento. Prefeitos da região, vereadores, empresários, lobistas, imprensa regional, todos se assanharam com a possibilidade de estar com o governador e apresentar-lhe suas demandas. Ou de simplesmente beijar-lhe o anel, fazendo as vezes da Corte. Mas, em Rondonópolis, nem isso!

Conheci Rondonópolis na década de 80. Era um momento especial da vida do país, é verdade. Mas, a efervescência política da época parecia maior em Rondonópolis. Qualquer picolezeiro da praça dos Carreiros era um debatedor nato dos acontecimentos políticos. No movimento estudantil, que me levou à cidade pela primeira vez, havia uma multidão de militantes, não apenas massa de manobra.
Carlos Bezerra, Percival Muniz, Alberto de Carvalho, Marlene Oliveira, Juca Lemos, Odinarte, eram alguns dos políticos locais cultuados pela esquerda, que mobilizavam as massas, que se envolviam no dia a dia dos movimentos sociais e políticos. Até a chamada direita, como eram classificados à época Moisés Feltrin e Jota Barreto, eram figuras destacadas, que faziam o bom debate político.
Mas, a Rondonópolis governada atualmente por Zé do Pátio, o político que se fez nas lutas populares, está vazia de povo, de política, de debates, de mobilização social.

Talvez seja um reflexo direto da evolução econômica da cidade. A forte migração sulista desde então transformou a terra de descendentes de baianos e nordestinos – alegres e associativos por natureza - numa cidade que respira negócio, e não mais política. Um cenário mais compatível com Adilton Sachetti do que com Zé do Pátio, com certeza.

Mas, a danada da política cria esse fosso entre teoria e prática todo o tempo, e fez com que o prefeito mais compatível com o novo perfil sociológico da cidade perdesse as eleições, exatamente por não ser um tiquinho baiano, por lhe faltar um pouco de cheiro de povo.

Certamente o fato de o prefeito estar em crise com o governador fez com o que partido de ambos, o PMDB, também não se sentisse dono do evento, a ponto de não levar a vila Operária em peso para a prefeitura. Esse é outro contraste: Zé do Pátio, embora derive dessa tradicional base popular do velho MDB de Rondonópolis, não governa para ela. E Silval, que é novato no partido, também não conseguiu ainda criar uma empatia com a principal base peemedebista do Estado. Restou a Carlos Bezerra tentar emular esse contraste, mas inclusive ele próprio vagueia na Rondonópolis das décadas de 70, 80 e início de 90, e talvez já não reconheça a nova metrópole do agronegócio, além de já não ser reconhecido por ela.

Essa atmosfera de contrastes vai ser decisiva nas eleições de 2012 na cidade. O novo e o velho vão se enfrentar na forma do “técnico” x “político”. O candidato que conseguir demonstrar capacidade técnica com sensibilidade política, que possa reavivar essa adormecida paixão local por política, mas sem cair na demagogia barata – e sem perder o foco na eficácia gerencial que a cidade já não prescinde mais – certamente será imbatível. A questão é: existe tal perfil?!
P.S: Na falta de um título mais apropriado, escrevi Rondonópolis como a vi na última sexta, de traz para frente.

(*) KLEBER LIMA é jornalista e consultor de marketing em Mato Grosso, e diretor do site HiperNoticias. E-mail: kleber@hipernoticias.com.br. Twitter: @kkleberlima
 



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