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Opinião
Quinta - 01 de Setembro de 2011 às 12:15
Por: Lourembergue Alves

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Ler é sempre um deleite. Ainda mais quando se tem a frente, um autor cuidadoso com a arte de escrever. Característica marcante de Ernest Hemingway. Foi assim, aliás, que venceu a resistência inicial de editores de livros e revistas. Não só isso, como se fez amado pelos leitores, aos quais crescem mesmo depois do seu falecimento, no segundo dia de julho de 1961. A morte venceu o corpo físico, sem, contudo, destruir suas pegadas. Estas são marcadas por um estilo literário diferente do usual da época em que viveu, onde predominava o psicologismo. Nem por conta disso, Ernest deixou de juntar os traços que se aproximam bastante da realidade imediata dos personagens de seus livros. Tática iniciada nos contos e aprimorada nos escritos mais densos, a exemplo de “O sol também se levanta”. 

 Nesse romance – o primeiro de sua lavra – é possível identificar a fragilidade e comportamento humanos. Como se as figuras reais incorporassem as dos personagens, e estas em gente de corpo e alma. É nesse contexto, metamorfoseado, que aparece Brett Ashley, jovem viúva, paparicada e amada por quem se encontram a sua volta. Ela, porém, só estava interessada em se divertir. Jamais ser desposada. Até o dia em que foi pega por sua própria armadilha, e viu-se enamorada. O felizardo era o toureiro Pedro Romero. Quinze anos mais moço. Explica-se, então, a ciumeira de Roberto Cohn – um escritor em busca de seu caminho. Ciúmes, logo, transformados em fúria, materializada em esmurrar os amigos. Por isso, ninguém mais o queria por perto. Nem a mulher desejada, tampouco Jake e Mike – seus grandes parceiros de farra e de passeios pelos cafés e hotéis de Paris e Madri.
 Itinerário-cenário de toda a trama. Amarrada em conflitos e frustrações. Resulta-se daí os desequilíbrios, os quais parecem vividos por pessoas reais. Aliás, curiosamente, bastante assemelhados com os sentidos por intelectuais estadunidenses e ingleses auto-exilados em Paris, após a Primeira Guerra Mundial. 

 Era a chamada “geração perdida”. Motivada pela inocência. Uma inocência que se perdeu nos destroços da guerra. Mas teimosamente, no dizer de seus críticos, reacendida por prosadores, poetas e pintores, que retrataram uma época e marcaram uma situação literária e artística.
 Quadro em que se destacou Ernest Hemingway. Um autor primoroso que, no livro em questão, dizem seus “biógrafos”, se faz passar pelo igualmente jornalista Jake Barnes. Narrador, e um dos rejeitados por Brett. Decepção amorosa também sofrida pelo escritor, na vida real, em um espaço de tempo bem específico, entre o fim de um casamento e o enlace de outro. 
 Há quem diz que tal decepção amorosa marcou muitíssimo a vida de Ernest. Melhor sorte, porém, teve o seu personagem, o qual se deleitou ao ter Brett nos braços. 

 De todo modo, “O sol também se levanta” traz uma história acobertada por enigma, decifração. Bem mais sutil do que “Paris é uma festa” – outra obra de Ernest, também comentada nesta coluna. Ainda que se possa identificar “uma história em que personagens reais aparecem com nomes fictícios”. Mas, nem por isso, trata-se de um livro meloso, uma vez que nele se sobrepõem a insatisfação, dor e a solidão, mesmo em um cenário entre a arena da tourada e a praça, onde acontecia a maior romaria ou o desfile intermitente de transeuntes. Eis, aqui, uma das razões que o dito romance deva ser lido, cuja tarefa do leitor é montar as peças do quebra-cabeça, cuidadosamente preparado por um escritor de apenas 27 anos, no início da carreira.    

Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.  
 


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