VLT X BRT: O FUTURO DE CUIABÁ
Difícil não opinar sobre essa polêmica VLT (veículo leve sobre trilhos) versus BRT bus rapit transit). Como asseverou o grande Aristóteles, o homem é um animal político (zoon polyticon). Enganam-se aqueles que traduzem a expressão grega por animal social. É animal político mesmo! É evidente que o filósofo grego aplicou o conceito aos cidadãos da pólis (homens livres que habitavm a cidade) e deixou de fora os escravos. Estes não eram considerados nem mesmo como gente, quanto mais cidadãos. Talvez essa natureza política do homem é que leva muita gente a emitir juízo de valor sobre as coisas da sua cidade, da sua polis. E eu sou mais um deles.
Pode-se dizer que, se o VLT for implantado em Cuiabá, esta será uma vitória do presidente da Assembléia, José Riva. Particularmente, sou um habitante da cidade de Cuiabá que não tem qualquer motivo para concordar com a prática política desse parlamentar estadual. Ao contrário, discordo quase que na íntegra. Respeito o seu mandato porque sigo as regras da democracia. Só isso. Mas no caso do VLT, dou as mãos à palmatória e sou forçado a concordar que esta é, disparadamente, a melhor opção para Cuiabá.
Essa modalidade de transporte vai muito além do imediato, custe o que custar no momento. É algo para mais de 50 anos. E é exatamente esse o critério que temos que seguir nas obras públicas: pensar sempre em termos de meio século, pelo menos. O BRT, por sua vez, é uma coisa simples, singela, um ônibus articulado em um corredor “exclusivo”. São Paulo já tem isso há muito tempo e o trânsito piorou cada vez mais, até mesmo por outros motivos, mas piorou. Então, o BRT em Cuiabá será uma pequena obra, com grandes transtornos, e pensada para, no máximo, 10 anos. E pronto: estará saturada.
Vou dar um bom exemplo para ilustrar o que estou dizendo.
A nossa Estação Rodoviária, chamada de Cássio Veiga de Sá, foi construída no Governo Garcia Neto (1971-1975). Creio que Cuiabá deveria ter, na época, algo em torno de 200 mil habitantes (hoje tem 550). A obra foi pensada e projetada para atender a população por 50 longos anos (será mesmo?). Pois é, já se foram mais de 35 anos, a cidade quase triplicou sua população, o terminal opera ainda hoje com menos da metade da sua capacidade e atende 100% da demanda. Podem conferir. Isso equivale a dizer que não teremos problemas com a nossa Rodoviária pelo menos por mais 50 anos, quando Cuiabá estará, provavelmente, com mais um milhão de habitantes.
Creio que a opção pelo VLT, mesmo que os políticos nem tenham tanta consciência histórica, equivale à construção da Rodoviária no final da década de 70.
Conheci o VLT em Zurick, na Suíça, em 1995 e também o BRT em Roma e São Paulo. Para quem utilizou a ambos, não resta qualquer dúvida sobre as vantagens do VLT. O BRT, por sua vez, seria uma opção daqueles que não têm senso histórico, não pensam na cidade a médio e longo prazo. Para nós, que sustentamos a "polis" com nossos impostos, não há outra saída senão “meter o bedelho” nesse debate. Queremos uma solução para 10 ou para 50 anos? A pior coisa será o pecado da omissão.
(*) Antonio Carlos Maximo é professor da UFMT.
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