De bica
Jornalista se aposenta em busca de tempo para escrever artigos. Comigo será diferente: paro de escrevê-los como preparativo para a aposentadoria. Em nome dessa proposta, no próximo domingo deixo este espaço e – sem direito a recaída - abro mão de assinar conteúdo de opinião. No entanto, continuarei atuando no jornalismo, que é a única atividade que exerço para meu sustento e de minha família.
Agradeço a todos. Corro sem mágoas ao pijama. Compreendo que algumas pessoas se sentiram ofendidas com meu texto. A elas e aos que injustamente moveram ações judiciais contra mim estendo a mão da conciliação. Acredito na evolução do homem e por isso espero que a ira e o rancor que enfrentei em algumas situações não se repitam no amanhã com os articulistas. De igual modo creio na evolução da Justiça e essa crença me fortalece a ponto de perdoá-la por uma condenação com trânsito em julgado que sofri em julgamento à revelia, nesta Cuiabá onde sempre estou no ambiente de trabalho, em coletivas e no meu endereço fixo com identificação na lista telefônica e etc.
No primeiro passo da caminhada de volta pra casa não levo dourado currículo mostrando que assessorei ‘este’ e ‘aquele’, que sempre compartilhei do poder independentemente de quem o exercesse. Meu legado aos meus filhos é a causa que defendo em meus textos. Satisfaço-me com ela mesmo sentindo na pele a retaliação e trombando com as portas que essa manifestação da minha índole me fecha.
Infelizmente causa não é bandeira de todos. Lamento por Cuiabá, onde formadores de opinião costumam defender nulidades se deixando seduzir pelas luzes do poder e o brilho das moedas. Graças a Deus nunca adotei tal procedimento e, por isso, ao ficar ao lado desta quase tricentenária cidade sinto-me cuiabano verdadeiro, que é aquele muito além do ‘tchapa e crux’ e do pejorativo termo pau rodado, pois a alma da cuiabania nasceu do grupo liderado por Paschoal Moreira Cabral, brasileiro acima das questiúnculas provincianas.
No próximo domingo, com a graça de Deus escreverei o último artigo e o farei com o ímpeto do primeiro que se perdeu na curva das décadas. Se me perguntarem se valeu, direi que sim. Se quiserem saber se faria tudo de novo, responderei que não, muito embora respeite o jornalismo que exerço de cabeça erguida e que garante meu pão de cada dia. Confesso que o que me agrada é o imaginário de ouvir no meu peito o trote de um mulão que me leva pra lida com vaquinhas gir num sítio com uma bica de aroeira debaixo da minha janela ao lado do curral. Na próxima semana não falarei em saideira. Antecipadamente meu adeus.
Eduardo Gomes é jornalista
eduardo@diariodecuiaba.com.br
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