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Opinião
Segunda - 04 de Novembro de 2013 às 20:47
Por: Gabriel Novis Neves

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É bom quando somos crianças e pensamos nos presentes que vamos
ganhar no dia que comemoramos o nosso nascimento.
Até os meus dez anos de idade, quando já entendia que dia de
aniversário era para ganhar presente, chegava da escola, almoçava
e
ficava na janela do meu quarto esperando os possíveis doadores.
Tinha um tio casado e sem filhos que, antes de ir para a
repartição, pontualmente às 13h30m, apontava na esquina em
direção à minha casa. Era o sinal que a escrita dos anos
anteriores
seria mantida.
De terno branco, sempre trazia o meu esperado e primeiro presente.
Permanecia comigo o tempo suficiente para que eu abrisse a caixa do
mimo e lhe fosse servido, por minha mãe, o bom-bocado que tanto
apreciava.
Logo saía para trabalhar, e eu voltava para a janela.
Outra visita constante era uma antiga amiga de minha mãe que,
sempre
protegida por um guarda-sol, também era portadora da esperada
lembrancinha.
Tudo para ser programado com luz solar, pois a elétrica faltava
com
frequência.
A mesa com o bolo de velas, que só seriam sopradas com a chegada
de
todos os convidados, destacava-se no pequeno espaço da sala de
nossa
humilde casa.
A festa só acontecia realmente com a chegada do orador oficial dos
aniversários, o professor Ezequiel de Siqueira com sua imensa
coleção de cachorros.
Figura folclórica na cidade. Fazia a criançada vibrar como se
estivesse na presença de um mago das histórias infantis.
A sua fala era a mesma em todas as festas infantis e terminava
sempre
recitando uma poesia de autor desconhecido, talvez a mais linda da
língua portuguesa pela sua simplicidade e ensinamentos.
As crianças daquela geração nunca se esqueceram da sua letra e
mensagem: “Batatinha quando nasce se esparrama pelo chão,
mamãezinha quando dorme põe a mão no coração”.
Interpretem as informações, que muitos adultos desconhecem, como
o
nascimento das batatinhas, sem especificar a espécie, e a mãe
totalmente despojada de sentimentos materialistas, traduzidos pelas
mãos no coração.
Quando a gente envelhece o aniversário passa a ser uma ameaça, e
não mais motivo de celebração.
Passamos a temer a nova idade que ganhamos de aniversário. Muitas
das nossas fantasias infantis desaparecem.
Para fugir da tristeza dessas datas usam-se vários meios
artificiais, por exemplo: os aniversariantes tiram o telefone do
gancho e ficam em casa tal reféns.
Estreei, no meu último aniversário, uma excelente maneira de me
presentear: uma ótima viagem não programada. E gostei.
Chegamos numa idade onde tudo é permitido, inclusive, ser feliz no
dia do aniversário.


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