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Um Bairro Especial
Apesar da crise, Alfama continua o mesmo. Isso o torna mais especial. Da janela do apartamento tem-se uma vista espetacular. De um lado, há poucos metros dali, avista-se o rio Tejo, cujas águas parecem escorrer mansamente; do outro, um amontoado de prédios. Colocados uns nos outros, e entre eles, ladeiras, becos e ruelas. Trata-se, portanto, de um belo retrato – rico em cultura e em história.
Diz-se que foi o primeiro bairro da capital lusitana. Não se tem dúvidas disso. Até porque existem, por aqui, pegadas antigas. São azulejos, ladrilhos e o desenho arquitetônico todo particular. Firmes e inteiros. O que realça o fato de que a dita área sofreu pouquíssimo com o terremoto de 1755. Um acidente que abalou a cidade e mexeu com os portugueses. E não era para menos. Pois, ainda hoje, há traços bastante fortes do tal acidente, a exemplo do que sobrou da Igreja Nossa Senhora do Carmo.
Estrago que não atingiu Alfama. Não em igual proporção. Talvez, por isso, raramente se vê alguém – nas imediações - comentar a respeito. E olhe que a gente do bairro fala de um tudo. Sobretudo do cotidiano. Cotidiano marcado por ajuntamento de várias culturas. São indianos que se misturam com árabes, e estes se entrelaçam com europeus que, por sua vez, se vêm bem próximos de brasileiros. Misturanças mais e mais acentuadas com as levas de turistas. Estas tudo indicam, se deixam levar pela história do lugar, ao som da guitarra portuguesa, a acompanhar as letras do fado.
Aliás, aqui, se tem o maior número de casas de fado. Justifica-se, portanto, a existência do museu, que narra – em imagem e voz – o percurso da música que, na verdade, é um hino português. Recentemente, considerado patrimônio imaterial da humanidade.
Festa, júbilo. Mas a história do bairro não se resume a cantoria, nem apenas a um bom vinho. Ela é bem mais. Vai do formato de seus edifícios, com a idéia de que um se debruça sobre outro, até os traçados de seus becos e ruelas. É um desenho particular. Embora se perceba determinados traçados destes em várias cidades européias. Semelhantes, porém não iguais. Pois cada uma delas tem o seu próprio cenário. E este lhes faz a diferença, a qual se vê com nitidez. Particularmente do terceiro andar de um prédio que se acha quase no coração de Alfama.
Visão privilegiada. De onde se pode visualizar o rio todo majestoso, a correr mansamente. Nem mesmo, contudo, suas águas de hoje são as mesmas de ontem, e tampouco serão as de amanhã; enquanto as pessoas deslizam sobre suas beiradas, e, aos pés do dito prédio, escadas se cruzam e entrelaçam, a formarem outro desenho, que se associa a um maior, e deste se pode ter a noção exata dos traços que constituem o lugar.
História, memória e imagens. São peças que se relacionam entre si, a qual rapidamente se procurou reuni-las neste texto, com o intuito de fornecer a idéia do que é, de fato, o Alfama. Talvez, o mais lisboeta de todos os bairros da capital portuguesa.
Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.
Diz-se que foi o primeiro bairro da capital lusitana. Não se tem dúvidas disso. Até porque existem, por aqui, pegadas antigas. São azulejos, ladrilhos e o desenho arquitetônico todo particular. Firmes e inteiros. O que realça o fato de que a dita área sofreu pouquíssimo com o terremoto de 1755. Um acidente que abalou a cidade e mexeu com os portugueses. E não era para menos. Pois, ainda hoje, há traços bastante fortes do tal acidente, a exemplo do que sobrou da Igreja Nossa Senhora do Carmo.
Estrago que não atingiu Alfama. Não em igual proporção. Talvez, por isso, raramente se vê alguém – nas imediações - comentar a respeito. E olhe que a gente do bairro fala de um tudo. Sobretudo do cotidiano. Cotidiano marcado por ajuntamento de várias culturas. São indianos que se misturam com árabes, e estes se entrelaçam com europeus que, por sua vez, se vêm bem próximos de brasileiros. Misturanças mais e mais acentuadas com as levas de turistas. Estas tudo indicam, se deixam levar pela história do lugar, ao som da guitarra portuguesa, a acompanhar as letras do fado.
Aliás, aqui, se tem o maior número de casas de fado. Justifica-se, portanto, a existência do museu, que narra – em imagem e voz – o percurso da música que, na verdade, é um hino português. Recentemente, considerado patrimônio imaterial da humanidade.
Festa, júbilo. Mas a história do bairro não se resume a cantoria, nem apenas a um bom vinho. Ela é bem mais. Vai do formato de seus edifícios, com a idéia de que um se debruça sobre outro, até os traçados de seus becos e ruelas. É um desenho particular. Embora se perceba determinados traçados destes em várias cidades européias. Semelhantes, porém não iguais. Pois cada uma delas tem o seu próprio cenário. E este lhes faz a diferença, a qual se vê com nitidez. Particularmente do terceiro andar de um prédio que se acha quase no coração de Alfama.
Visão privilegiada. De onde se pode visualizar o rio todo majestoso, a correr mansamente. Nem mesmo, contudo, suas águas de hoje são as mesmas de ontem, e tampouco serão as de amanhã; enquanto as pessoas deslizam sobre suas beiradas, e, aos pés do dito prédio, escadas se cruzam e entrelaçam, a formarem outro desenho, que se associa a um maior, e deste se pode ter a noção exata dos traços que constituem o lugar.
História, memória e imagens. São peças que se relacionam entre si, a qual rapidamente se procurou reuni-las neste texto, com o intuito de fornecer a idéia do que é, de fato, o Alfama. Talvez, o mais lisboeta de todos os bairros da capital portuguesa.
Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.
URL Fonte: https://arenapolisnews.com.br/artigo/319/visualizar/
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