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Opinião
Quinta - 19 de Janeiro de 2012 às 18:07
Por: Lourembergue Alves

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Castelos e palácios existem aos montes na Europa. A maioria deles, abertos ao público. Vale à pena percorrer por seus corredores e salas. Mesmo que o valor pago, em euro, seja pesado para quem ganha em real. Pois os passeios são verdadeiras aulas de história, política, pintura e arquitetura. Passeios, além disso, marcados também por curiosidades, e, entre estas, a do castelo da Quinta da Regaleira, encravado na serra de Sintra, em Portugal. 

 Trata-se de um belo lugar, de onde se tem uma vista espetacular. Pois parte da cidade, lá embaixo, parece ajoelhar a seus pés, e, assim, os olhos do visitante alcançam ao longe. Talvez seja isso que fizera o brasileiro, nascido no Rio de Janeiro, a adquirir a propriedade em 1893. Já havia o casarão. Mas Antonio Augusto de Carvalho Monteiro, com a ajuda de grandes profissionais do paisagismo e da arquitetura, entre os quais o mais badalado da época, o italiano Luigi Manini, fez-lhe mudanças significativas, além de ampliar o jardim com a aquisição de outros terrenos na redondeza. O que permitiu construir ali um cenário bastante curioso, cheio de grutas, túneis, poços, jardins e em simbologias, cujo percurso traz a representação “de uma viagem iniciática”, a qual se aproxima dos enigmas da Arte Real, inclusive com os números correspondentes. Aliam-se a estes os símbolos que aparecem no dito castelo. Inexiste cômodo ou peça sua que não traz algo “enigmático”, e isso obriga o visitante a olhar e reolhar os detalhes, uma vez que estes dizem ou querem dizer sempre bastantes coisas. Bem mais do que o apressado está acostumado a presenciar.

 É uma verdadeira “viagem”, e que dá uma idéia ou a sensação de estar-se imbuído da tarefa de investigação, ou mesmo fazer parte da missão templária da Ordem de Cristo. Nesta, e não sem razão, os pontos de referências são a mitologia, o Olimpo, Vírgilio, Dante, Milton, Camões. Recomenda-se não perder tais referências de vista. Pois não há nada ali “solto”, “sem qualquer justificativa de estar no exato lugar”. Até mesmo o “poço iniciático”, construído à esquerda e pouco abaixo do ponto mais alto da área, que, na verdade, é a “torre invertida”, cuja fundura mede vinte e sete metros, “com acesso através da escadaria em espiral”, e “configura-se como um espaço de sagração, de conotações herméticas e alquímicas, onde se intensifica a relação entre a terra e o céu”. E desse poço se chega, em caminhos distintos, a grutas e a ao portal dos guardiões. Deste se tem uma visão privilegiada dos jardins, da torre da regaleira e da capela - erguida muito próxima do castelo, ao qual se chega ou pelo túnel ou por uma trilha.

 Cada peça, portanto, tem ligações estreitas e significativas com as demais, e, juntas e entrelaçadas, formam um grandioso cenário arquitetônico e místico, em uma “dimensão” – no dizer de certo folheto entregue na portaria – “poética e profética”.
 Percebe-se, então, todo um trabalho desenvolvido. Aliás, em um dos cômodos do casarão, se encontra exposto os desenhos feitos para se chegar ao conjunto que se tem hoje. Um conjunto paisagístico e arquitetônico bastante interessante. Isso sem falar do seu lado curioso, não apenas no sentido de sê-lo diferente do que se está habituado a ver, tanto no Brasil como pela Europa. O que seduz e atrai o visitante.   

Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.     


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