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Opinião
Segunda - 12 de Março de 2012 às 10:24
Por: Lourembergue Alves

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Barganhar, no sentido de trocar favores, passou a ser sinônimo de política. Esta, então, ganhou contornos pouco aceitáveis. Isso afasta uma porção de pessoas do próprio espaço do fazer político. Pois este é associado a “corrupção”, a “enriquecimento da noite para o dia” e “privilégio de forma pouco ética”. Daí o mensalão do PT, do DEM e do PSDB, que se junta a toda forma de “merendas” e de “gratificação” distribuído a parlamentares, oferecido pelo chefe do Executivo. 

 Práticas corriqueiras. Mesmo em datas pretéritas. Quando ainda se tinham os primeiros ensaios de jogo político-eleitoral. De lá para cá, muita coisa mudou, com leis específicas, um tribunal apropriado e criação de partidos nacionais. Mas, as tais práticas continuam hoje presentes. Bem mais do que antes. O que é explicado pela própria institucionalização da politicagem que, conforme o dicionário Houaiss, se refere – pejorativamente – a interesses pessoais, a troca de favores.  

 São esses interesses, aliás, que movimentam as pedras no tablado de xadrez da política. Até fazem sentar, frente a frente, governante e parlamentares, em busca de entendimentos. Foi exatamente isso que se viu recentemente, no Palácio Paiaguás. Mesmo com os ânimos acirrados, e depois de fortes críticas dos deputados regionais contra o chefe da administração pública estadual. Este e aqueles “fumaram o cachimbo da paz”. Não se estranharam. Nem deveriam. Afinal, o governador prometeu-lhes liberar os recursos referentes às emendas destinadas aos municípios – onde cabos eleitorais de deputados são também concorrentes nas eleições vindouras -; enquanto os parlamentares se recolhiam ao silêncio, contrapondo a sua própria atividade. 

 Eis, aqui, a força da barganha. No seu significado único de troca-troca de favores. Pois o resultado do dito encontro não saiu da esgrima, da defesa de ponto de vista. O que deveria ser próprio do espaço da política. Embora se possa ver, e de fato se viu, nas manchetes do dia seguinte, elogios rasgados ao referido resultado, como expressão maior do fazer da política. Na mais clara confusão do que se pode, e deve chamar de política – no seu verdadeiro e sagrado sentido. 

 Isso demonstra, por outro lado, o desconhecimento do que ela, de fato, seja. A ponto de se confundir anos de mandato com visão política, e esta com a quantidade de votos conquistados nas eleições. A despeito do dizer de Weber: o “viver da”, não é o mesmo que o “viver para”. São situações completamente diferentes. A segunda pode, e até tende a ter uma “causa que dá sentido à vida”, ao passo que a primeira situação reforça a idéia de “profissão” e de “fonte de renda”. Patrimônios são construídos da noite para o dia. Fortunas que se perdem de vista. Inexplicáveis com o rendimento advindo do exercício dos cargos ocupados. 

 Retrato de um país onde a maioria dos cidadãos se desinteressa pela política. Ainda que não seja capaz de viver sem ela. Nem se quisesse. Mas seu desinteresse, no entanto, permite que a politicagem assuma um papel que não deveria ter no espaço essencialmente humano.

Justifica-se, portanto, o desaparecimento da esgrima, do debate de idéias, de projetos e de programas de governo. Predomina, assim, a barganha, o troca-troca. Ainda que parlamentares – sem quaisquer conhecimentos de causa – passem todo tempo defendendo reforma administrativa, com vistas ao enxugamento da máquina estatal. Desde que não lhes retirem seus quinhões, suas influências de poder e interesses particulares. Daí o uso e abuso da “retórica do barganhar”.             
Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br
 


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