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Opinião
Quinta - 03 de Maio de 2012 às 16:01
Por: Onofre Ribeiro

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No artigo anterior escrito neste espaço, falei da classe C, essa nova classe média que surgiu no Brasil nos últimos anos e está se posicionando, politica e socialmente, com grandes chances de influenciar positivamente toda a sociedade brasileira.

Penso que esse corte na estrutura da sociedade brasileira, será um diferencial muito relevante pela nova linguagem social e econômica que representa. Tudo, no final, se resume a linguagem. As duas classes predominantes anteriormente, A e B, tinham muitas liturgias no seu comportamento. Acabavam vítimas dos seus arranjos sociais, a maioria caros e desnecessários, muito ligados ao status social. Gostaria de lembrar aqui um desses arranjos. Lá pelos anos 70 em diante, quando a nova classe média brasileira que surgia naquele momento, o carro dominante era o Fusca. Para compensar a pouca estabilidade e beleza do carro, fazia-se um arranjo com as rodas para ficar mais esportivo, e colocava-se um escapamento “kadron” pro barulho do motor fraquinho de 30 HP parecer um ronco. Era uma forma de linguagem nova para a época. As calças jeans Levy´s,Lee e Topeka, e boca de sino, etc, e as moças com seus cabelos presos por laquê, cinturas fininhas, peitos salientes e bunda marcada, nas mesmas calças jeans, diziam uma nova linguagem à sociedade conservadora.

Hoje, uma massa de 30 milhões de brasileiros saiu da paralisada situação de classes C, D e E, para uma nova categoria chamada genericamente de nova classe média. Ora, seria burrice esperar que essa massa não trouxesse na bagagem transformações profundas no comportamento corrente. Lembram aquela dos anos 70, só que em muito maior número. Eles lotam as igrejas, principalmente as evangélicas que falam de prosperidade. Mas isso será por um tempo, porque os jovens estão estudando e deixando de lado o determinismo religioso de submissão.

Consumir é uma força política imensa que a nova classe média exercita em larga escala para preencher as suas lacunas sociais e eventuais recalques da pobreza anterior.

Bom, dito isto, fico imaginando que linguagens usar com essas pessoas que estão tomando consciência de si mesmas. Basta ver como hoje um pedreiro age e reage, e outros profissionais outrora relegados a um desconfortável desprezo. Faltava-lhes consciência política que agora estão construindo. Os próximos anos serão de difícil diálogo entre setores como o da justiça, da política e do governo, que eles rejeitam porque não lhes respondem de maneira objetiva. Antes temiam política, políticos, justiça e governo. Hoje não mais.

A pergunta que fica para finalizar essas reflexões, é o tipo de linguagem que será usada nas eleições municipais deste ano na comunicação com um eleitorado que decide a eleição, mas cuja linguagem ainda não foi decodificada porque nem construída de todo ainda está.

Concretamente está claro que descer, jamais! Então, como prometer garantias de futuro a quem teme voltar ao passado, se a política não garante nenhuma promessa? O que está em jogo, em última instância, é a linguagem com o qual a sociedade falará, em qualquer circunstância, com a nossa massa que invade a sonolenta sociologia tradicional brasileira.


Onofre Ribeiro
é jornalista em Mato Grosso
onofreribeiro@terra.com.br



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