A “cirurgia” de Silval
“Cortar na própria carne” é um termo forte, impactante, usado simbolicamente, como é óbvio, para exemplificar medidas duras no sentido de mandar apurar e punir os próprios colegas pilhados em atos criminosos. Usualmente, aplica-se mais à administração pública e se tornou uma espécie de jargão do setor. E já está ficando batido e desgastado, diante de tantas denúncias e de escândalos que ocorrem no país.
Infelizmente, o termo nem sempre traduz com exatidão o seu significado, pois que também tem sido empregado para anunciar falsas ou superficiais atitudes moralizantes. Mero jogo para a platéia, sem a eficácia aludida.
Mais adequado apenas para ocultar o “lixo que se varre pra debaixo” dos tapetes de gabinetes, ou seja, sem ir fundo no corte.
Cortar na própria carne, entretanto, se torna real quando, além da exoneração, os envolvidos em malfeitorias acabam sendo presos, ainda que temporariamente em cumprimento à decisões judiciais. Conforme está ocorrendo em Mato Grosso no curso da chamada Operação Vespeiro desencadeada pela Secretaria Estadual de Segurança, e pela qual a polícia vem efetuando a detenção de funcionários graduados da Secretaria Estadual de Fazenda (Sefaz) e de pessoas que foram utilizadas como “laranjas” destes e nas contas das quais depositavam somas elevadas de dinheiro desviado dos cofres públicos. Dentre os “laranjas”, cabe salientar, alguns foram mesmo usados e não sabiam que participavam de um crime, e não merecem estar presos. Este, infelizmente, é o preço que se paga nesse processo de depuração.
Sejam inocentes ou culpados, é da minha índole não se rejubilar com situações como esta - embora entenda a sua necessidade sob o ponto de vista do saneamento da coisa pública -, por saber que causa dor moral e constrangimento nas pessoas que são expostas a situações humilhantes e cujo vexame atinge também os familiares, amigos e outras pessoas da relação desses envolvidos. Lamento por eles! E que cada um pague por seus erros.
Imagino que cortar na carne é mais fácil quando o ato “cirúrgico” ocorre em outros planos governamentais, como em Brasília, por exemplo, onde os atingidos por alardeadas “faxinas” não são pessoas e com as quais, às vezes, cruzamos na rotina do dia a dia. Nos shopppings, nas feiras ou nas igrejas...
Vendo as coisas por este prisma, por uma questão de justiça, há que se reconhecer a firmeza do governador Silval Barbosa que, tão logo tomou conhecimento dos desmandos, usou, dentro da legalidade, de todos os mecanismos jurídicos e administrativos ao seu dispor, cobrando de seus subordinados da Auditoria Geral do Estado, da Secretaria de Segurança Pública e da própria Sefaz, apuração rigorosa sobre os fatos desabonadores e cujas investigações, paralelamente e em comum com o Ministério Público Estadual, culminaram com a Operação Vespeiro.
Nesta parte, alguns podem achar que o governador não fez mais do que a obrigação, cobrando providências para o caso. Porém, cumprir com seus deveres não deixa de ser um fato positivo e não invalida o mérito dos que agem dessa forma.
Desmandos existem, e continuarão existindo, em Mato Grosso, no Brasil e no mundo, porém o conforto é saber que a autoridade maior de nosso Estado está empenhada na punição dos culpados e no ressarcimento do montante surrupiado dos cofres públicos; não se omitiu, não lavou as mãos e nem fez uso da vassoura...
Como consequência, o lixo está exposto, lamentavelmente, mas, antes assim do que deixar que ele continuasse aumentando e não fosse estancado.
(*) MÁRIO MARQUES DE ALMEIDA é jornalista em Mato Grosso e diretor do site www.paginaunica.com.br. E-mail: mario@paginaunica.com.br
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