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Opinião
Quarta - 09 de Maio de 2012 às 19:00
Por: Gabriel Novis Neves

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Estou fazendo um curso de educação continuada em informática. Sou da geração do lápis, borracha, caderno de caligrafia, caneta tinteiro em formato de pena - bem depois é que surgiram as canetas esferográficas.

Também sou do tempo da máquina simples de escrever, máquinas elétricas e mimeógrafos. Dos telefones de manivela - ligados a uma central telefônica responsável pela ligação - e que eram enormes equipamentos pregados nas paredes das casas.

Percorremos com tremendo atraso tecnológico a longa estrada que nos levou ao computador.

Em Cuiabá ganhamos um aparelho antigo, que durante anos serviu à PUC do Rio. Foi instalado na UFMT. Houve necessidade de se construir uma sala especial para a instalação do computador, com enorme pé direito e uma refrigeração baixíssima durante as vinte e quatro horas do dia.

No Natal ganhei dos meus filhos um iPhone que faz de tudo um pouco: é telefone, computador, máquina fotográfica, calendário, relógio e até ensina a dar nó em gravata. Todo esse equipamento cabe em um pequeno bolso de uma camisa, e ainda sobra muito espaço.

Os avanços da tecnologia são tão impressionantes que o meu novo aparelho já está obsoleto. Ouvi pelo rádio a informação de uma especialista no setor que disse que, no verão, os americanos irão lançar o que há de mais espetacular em conquistas tecnológicas nessa área.

Se eu fosse uma pessoa bem informada, jamais compraria uma nova máquina, pois ficaria sempre aguardando a última novidade.

A geração atual não tem a mínima dificuldade em trabalhar com esses aparelhos, que precisa de muita memorização e destreza manual.

As minhas netas pegam esses pequenos aparelhos e, com os dedinhos das duas mãos em velocidade impossível para mim, mandam e respondem torpedos sem necessidade de revisão.

Para mandar uma mensagem pelo iPhone tive que comprar uma fina caneta com borracha na ponta.

Quando disse às gurias que a ponta dos meus dedos pegava várias teclas ao mesmo tempo, elas morreram de rir.

- Vô, o problema é jeito – disseram. - E você não tem o mínimo de noção de como bater certo na tecla.

- Gurias, vocês têm toda a razão. Não esqueçam, porém, que aprender exige muito sacrifício e dedicação, além da motivação.

Continuei explicando a elas que eu, apesar de possuir todos aqueles pré-requisitos, já perdi inúmeros neurônios – muitos dos quais irrecuperáveis. Esta perda dificulta a prontidão na ação de certos movimentos.

Dedilhar com precisão naquelas minúsculas teclas do meu iPhone, por exemplo, é uma dificuldade. Não sei ao certo se elas entenderam a minha explicação, pois me olharam com ar espantado e incrédulo. É que, para esta geração informática e velhice são dois ingredientes que não se misturam, como água e óleo.

Puro preconceito! Mas que fazer? Eu, por mim estou estudando com afinco. Afinal, preconceito existe para ser desmitificado.

Descobri na padaria um jovem advogado da geração da informática.

Pelo menos três vezes por semana eu passo pela padaria para rever os amigos e bater um rápido papinho. E, “coincidentemente”, meu iPhone sempre apresenta um probleminha nesses dias – exatamente quando chego à padaria.

Aproveito então a presença do jovem advogado e peço alguns esclarecimentos sobre o complexo aparelhinho.

Aprendi tanta coisa nesses últimos dias! Estou um verdadeiro craque no manuseio desse complicado meio de comunicação. E o meu “professor” nem percebeu - ou percebeu? - que eu estou explorando-o em um curso de informática.

Grande professor de idosos! Para isso sim, é necessária muita paciência, dedicação e certa dose de sacrifício.

Além da satisfação do aprendizado – “somos eternos aprendizes” -, eu posso agora me comunicar com o mundo pela tecnologia da informática.

Ah, sim! Minha memória melhorou muito. Estou em plena reposição de neurônios.

Mas, ainda não consigo dispensar a caneta com ponta de borracha.

 

*GABRIEL NOVIS NEVES é médico e ex-reitor da UFMT
 



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