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Opinião
Sexta - 10 de Agosto de 2012 às 10:54
Por: Lourembergue Alves

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A pátria, enfim, acorda. Despertou-se com as vozes advindas do plenário do STF, não das ruas, como de praxe ocorre. Certamente porque a maioria dos brasileiros está com os olhos presos aos resultados vindos da olimpíada, ao mesmo tempo em que se beneficia da boa fase da economia do país. Coreografia do estar tudo bem, de “paz e amor”, do “nada importa” para continuar tudo como antes. Mesmo com o julgamento do mensalão, depois de sete longos anos. Escândalo que, aliás, “inexistiu”, conforme os advogados dos trinta e oito réus. Reforça, assim, a tese outrora defendida pelos acusados, sob o batuque da construção sensacionalista e da existência do véu de caixa 2.

Desenho que se contrapõe ao apresentado pelo Procurador-Geral da República, bem como a fotografia estampada pela CPI dos Correios, a qual ofereceu grande parte dos traços utilizados pela acusação. Esta deveria ser de fato, desconstruída. Desconstrução que foi norteada pela afirmação de que o dinheiro saiu também de “empréstimos”. Tudo de forma “lícita”, no dizer dos advogados, e, igualmente na afirmação destes, o único “ilícito” praticado se deve a existência de caixa 2 – administrado e distribuído pelo tesoureiro do PT à época.
 
Distribuído para a “quitação” de dívidas de campanha, “sem a participação do ex-ministro chefe da Casa Civil”, cujas tarefas cotidianas lhe tomavam todo o seu tempo. Por conta disso, e até em função do cargo ocupado, se afastou do dia-a-dia partidário. Isso, portanto, revela a sua “inocência”, reforçada pela ausência de provas que o colocam na condição de líder da “quadrilha”. Logo ele “que tem serviços prestados” ao país, “não folha corrida”. Cantilena repetida quase literalmente pelos defensores de outras lideranças petistas acusadas; ao passo que os demais advogados “falaram” sobre o rosário de inocência de seus clientes, não políticos, mas com papel importante no esquema de pagamento de parlamentares para que votassem nos principais projetos do governo. 
 A teia de argumentação dos advogados de defesa, contudo, não está uniformizada. Unidas sim.

Porém, em vários momentos se viu e se vê o descompasso entre os advogados. Isto é natural. Pois cada uma das defesas depende de enredo diferenciado, o que provoca contradições, as quais abrem lacunas ou brechas. Sem, por conta disso, se deixou de ver – e ainda se verá – teses significativas, as quais desenham cenários, inclusive, teatrais. Os destaques ficaram para quem contou a melhor história, e esta, nem sempre, tem o mais famoso deles como autor. Ainda que todos dissessem que o Ministério Público Federal trouxe para o plenário uma acusação “fantasmagórica”, “fantasiosa”, “espetaculosa”; enquanto, indiretamente, dizia que o ministro-relator recebeu a denúncia contra os mensaleiros “em razão da sua vinculação psicológica com a fase inquisitorial”, uma vez que abriu mão de proferir uma “decisão puramente formal”, “como deveria”. Detalhe bastante forte no discurso de petistas ou de simpáticos aos acusados pertencentes ao chamado núcleo político do esquema. 

 Esquema que não traz prejuízo eleitoral algum para os hoje candidatos petistas. Nem deveria. Apesar de a equivocada oposição apostar nessa possibilidade, há muito descartado. Pois os efeitos, oriundos do tal escândalo, já ocorreram, e se encontram muitíssimo longe de qualquer sessão de reprise.

Isso está claro. Esta, talvez, seja a única certeza que se tem com o julgamento. Até porque grande parte do eleitorado não está ligada ao julgamento, mas tão somente com que ocorre em Londres. Isso é bastante grave. Grave porque mantém o país refém da impunidade. Acordado, é verdade, porém distraído “sem perceber que era subtraído em tenebrosas transações”, na bela canção do letrista e interprete brasileiro, relembrada na peça de acusação, embora parodiada desavisadamente pelos responsáveis pela defesa. Pobre país, pobre nação!

Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br
 



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