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Opinião
Segunda - 07 de Janeiro de 2013 às 21:11
Por: Gabriel Novis Neves

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Desmarcar um compromisso por motivo justo faz parte da rotina da nossa vida.

“Assim estava escrito há dez mil anos”, dizia Nelson Rodrigues, o dramaturgo maldito. Ele sempre acreditou que para o inevitável não há prevenção.

Não nascemos com o dom da adivinhação. O futuro é sempre uma hipótese. Vivemos o presente quando deixamos o passado.

Considero um risco marcar compromissos a longo prazo.

Uma marchinha carnavalesca abordou esse assunto de uma maneira simplória e do agrado de todos: “se não chover, amanhã volto pra te ver...”.

Usar e viver o presente até os limites do futuro é um sinal de amadurecimento.

Sempre tive pavor e evitava assumir compromissos com prazo indeterminado cheirando ao infinito, talvez por saber da nossa finitude.

Mesmo assim cumpri alguns, mas sempre de olho no hoje e nunca deixando nada para amanhã.

O destino foi camarada comigo. Hoje cumpro um compromisso que assumi há mais de meio século – o exercício da medicina.

Outro compromisso de longo prazo que assumi foi o meu casamento, desfeito por vontade divina após quarenta anos.

Cumpri uma missão no exercício da cidadania, sempre lucidamente, por dezenove anos ininterruptos.

Lembro-me ainda de um longo compromisso - de doze anos - ainda recente.

Tenho também compromissos de duração relâmpago. O mais curto foi de vinte e três dias.

Dia desses assumi comigo mesmo o compromisso de realizar uma viagem. Seria uma viagem curta, apenas para sanar algumas dúvidas com relação a um problema pessoal. Nada sério. Comprei com antecedência a passagem de ida e volta - claro.

Fiz as malas e logo as desfiz. Recebi cartão vermelho. Por ordens médicas estava impedido de viajar.

Frustrado, lembrei-me do ponto futuro do saudoso Cláudio Coutinho, que nos roubou a Copa do Mundo da Argentina, arbitragem à parte.

A esperança no traiçoeiro futuro, mesmo tão próximo, foi substituída pela dor insuportável da passagem desmarcada.

Um dia antes de embarcar, por motivo justo, aconteceu o que temia - confiar no futuro.

Os efeitos colaterais dessa passagem desmarcada, que assim quis o destino, se é que ele existe, são impossíveis de descrever.

Só o tempo para lamber as feridas abertas pelo imponderável.

Tudo que nos dá prazer tem que ser realizado no reflexo condicionado do desejo.

“Nunca deixe para amanhã aquilo que pode ser realizado hoje”, mesmo em se tratando de uma viagem.

É triste viver o trauma da passagem desmarcada.


 



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